A FALTA QUE FAZ
Os ventos que vêm do parque
Me trazem muitas lembranças
Da vida simples na roça
Do tempo em que fui criança
Numa época de inocência
Naquele tempo a descrença
Era menor que a esperança
Cresci correndo na relva
E a perseguir passarinho
Fui um menino levado
Recebi muito carinho
Embora muito cansado
Pelo trabalho pesado
Meu pai vivia sorrindo
Minha mãe sempre zelosa
Me dava muita atenção
Me levava na escola
Me ajudava com a lição
Mamãe era só doçura
Um exemplo de ternura
Tinha um grande coração
Mas um dia já crescido
Fiz o que sempre se faz
Saí lá do meu cantinho
Na ânsia de querer mais
E a partir daquele instante
Perdi o mais importante:
A proteção dos meus pais
Ai descobri que o mundo
É sempre muito cruel
Cheio de gente fingida
De castelos de papel
O tal do mundo moderno
Arrastou para o inferno
Quem antes estava no Céu
Um dia enquanto falava
De coisas muito banais
Alguém trouxe um telefone
Dizendo que era meu pai
E uma voz do outro lado
Dizia desesperado:
Sua mãe não vive mais!
O mundo sem minha mãe
Não tinha o menor sentido
Por isso ali me encontrava
Completamente perdido
Chorei pela rua a fora
Desejei naquela hora
Que tivesse eu morrido
Voei para minha terra
Foi um carro me encontrar
Embora andasse bem rápido
Parecia se arrastar
Ficaram só as imagens
Aquela foi uma viagem
Que eu não queria chegar
Mesmo depois de algum tempo
Que tudo isso aconteceu
É demais pra mim a falta
Do amor que não mais me deu
Se não teve amor dos pais
Digo que você rapaz
Teve vida e não viveu.