A FALTA QUE FAZ

Os ventos que vêm do parque

Me trazem muitas lembranças

Da vida simples na roça

Do tempo em que fui criança

Numa época de inocência

Naquele tempo a descrença

Era menor que a esperança

Cresci correndo na relva

E a perseguir passarinho

Fui um menino levado

Recebi muito carinho

Embora muito cansado

Pelo trabalho pesado

Meu pai vivia sorrindo

Minha mãe sempre zelosa

Me dava muita atenção

Me levava na escola

Me ajudava com a lição

Mamãe era só doçura

Um exemplo de ternura

Tinha um grande coração

Mas um dia já crescido

Fiz o que sempre se faz

Saí lá do meu cantinho

Na ânsia de querer mais

E a partir daquele instante

Perdi o mais importante:

A proteção dos meus pais

Ai descobri que o mundo

É sempre muito cruel

Cheio de gente fingida

De castelos de papel

O tal do mundo moderno

Arrastou para o inferno

Quem antes estava no Céu

Um dia enquanto falava

De coisas muito banais

Alguém trouxe um telefone

Dizendo que era meu pai

E uma voz do outro lado

Dizia desesperado:

Sua mãe não vive mais!

O mundo sem minha mãe

Não tinha o menor sentido

Por isso ali me encontrava

Completamente perdido

Chorei pela rua a fora

Desejei naquela hora

Que tivesse eu morrido

Voei para minha terra

Foi um carro me encontrar

Embora andasse bem rápido

Parecia se arrastar

Ficaram só as imagens

Aquela foi uma viagem

Que eu não queria chegar

Mesmo depois de algum tempo

Que tudo isso aconteceu

É demais pra mim a falta

Do amor que não mais me deu

Se não teve amor dos pais

Digo que você rapaz

Teve vida e não viveu.

Raí Guedes
Enviado por Raí Guedes em 01/04/2012
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