FORA MAU AGOURO!
Desgraçados, vão embora!
atolem-se num lamaçal
enterrem-se num buraco
se enforquem no escambau
pulem do alto da ponte
escondam-se nalgum monte
vocês, mensageiros do mal
Vão pras profundezas do mar
que morem lá no deserto
como animais abjetos
mordem quando estão perto
rincham feito cavalos
espinham nos intervalos
o incorreto do incerto
Por que não escorrem no ar
por que não viram tristeza
por que não viram fumaça?
Pulem dum trem, é moleza
nadem numa cachoeira
tranquem-se numa banheira
comam sua estreiteza
Se eu fosse feiticeiro
só me bastava um poder
realizar meus desejos
tudo que quizesse fazer
pra ficar longe dos chulos
jumentos de carga nulos
dar-lhes tudo que merecer
Tresloucados despreziveis
cavalos desenfreados
desumanos inconstantes
jumentos desembestados
bestas-feras arrogantes
homúnculos inconstantes
ursos velhos desdentados
Papelotes rasgados, sujos,
lixo da sociedade
raios ultravioletas
vivem só para maldade
animais desengonçados
bandoleiros malcriados
desenganos da saudade
Dêem-nos o prazer de sair,
sumam, façam-nos esse favor,
sorrisos de Mouras-tortas
desapontados do amor
de revolver estampidos
do viver desiludidos
pruridos de imensa dor
Peguem rabo de foguete
dormitem, não amanheçam,
no alto de um penhasco
do viver vão lá, esqueçam
esmurrem ponta de faca
façam raiva pr'uma vaca
depressa, desapareçam!