APÓSTOLOS DE ARAQUE
1 O maior homem do mundo,
um filho de carpinteiro,
já por ser um grande artista,
não dependeu do dinheiro;
nasceu e morreu tão pobre
que o mataram num madeiro.
2 Foi Dele a cruz a mansão,
na Terra não teve igreja,
como agora uns vendilhões
botam impérios à mesa,
pois se jactam de fortunas,
porém com grande esperteza.
3 Ao invés de Jesus Cristo,
nascido na estribaria,
uma corja d’evangélicos*
enche as burras de quantia
que nem os bancos calculam,
nem o Fisco saberia.
4 Fazendas, bois e mansões,
canais de televisão,
sítios, bens materiais,
esse e qualquer trapalhão
juntam, em nome de Deus,
com grande sofreguidão.
5 Falsos apóstolos, ditos
bispos, irmãos e pastores,
na verdade charlatães,
do capital grãos senhores,
longe das metas cristãs
– da fé bufões impostores.
6 De araque, pois, essa gente,
apóstolos de fachada
que nos bolsos têm o céu,
aos sons da fanfarronada,
pregando no que nem creem,
mas com riqueza guardada.
7 Seitas aos montes, ianques,
outras que não dizem donde,
tudo gente sabichona,
mais importante que um conde
nas artes de dar calotes
num povão que só se esconde.
8 Mas justo o povo que paga
dízimos e outras lorotas
também merece censura;
sequer compra as suas botas,
mas doa calça e cueca
dos santarrões às marmotas.
9 Podia nem pôr meu bico
n’área das religiões,
só que com seitas de luxo,
e em seu seio os gaviões,
quem se omite dá mancada
e assim lhes dou de bordões.
10 Primeiro, o Fisco precisa
ter sobre tais confrarias
controle das dinheiramas
que vão por ralos e pias
deste País tão gigante
e crente em quinquilharias.
11 Segundamente exijamos
Educação para o povo:
dizer-lhe que não se iluda
nem tire do prato um ovo
que lhe resta do jantar
para servir a Deus novo.
12 Igrejas, sem negocistas,
uno Deus nos seus poderes,
que céus e Terra comanda,
sem nunca ter tido haveres.
E as seitas do capital
serão cristãs, nos deveres?
Fort., 28/03/2012.
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(*) A “corja d’evangélicos”, aqui,
não se refere ao rebanho de fiéis,
ao coletivo dos seguidores dessa
corrente do pensamento cristão,
mas só refere a expressão aos que
das religiões fazem fortunas que
se assemelham a gigantescos trus-
tes financeiros e empresariais.