o encantamento de Jão cocá
Jão cocá contou um causo
No lugar que eu vivi
Na morte da minha tia
Denominada fifi
Até hoje eu tenho ira
Porque depois da mentira
O povo começou rir
Eu contei um caso serio
De um queixado que vi
Era um porco bem grandão
Parecia um javali
Cocá cortou o meu papo
E disse assim sou mais macho
Então parei pra ouvir
Disse ele: certo dia
No sitio nossa senhora
Vi a banda duma porca
Cuns fatos tudo pra fora
Bem desengonçada e torta
Pensei que era uma porca
Mas era uma caipora
O corpo igual um suíno
Mas tinha cara de gente
Nunca tinha visto ainda
Um bicho tão diferente
Era uma fera bem rara
Só tinha a banda da cara
E a gengiva sem dente
Porem antes do encanto
Ela quis dialogar
Perguntou? Você tem fumo?
Pois to querendo mascar
Eu achou que tava louco
Mas respondi ta no toco
Se tu quiser vai pegar
Porque quando vou pro mato
Eu levo fuma de rolo
Tiro a casca que tem mel
E deixo só o miolo
Ela achou que tava fraco
E disse só num te mato
Porque tu és muito tolo
Eu que sempre fui tão bravo
E sempre fui um herói
Pensei: ela não tem dente
E se me morder num dói
Olhei pra uma vereda
E aprontei a esquerda
E cacetei bem no zoi
Então dei uma murraça
Na banda esquerda sem dó
Ela então virou as costas
Deu um coice cum pé só
Acordei amargurado
Juro por Deus pendurado
Num resistente cipó
Eu nem lembrava do caso
Do coice da caipora
Pedi meu Deus me acuda
Rezei pra nossa senhora
Então naquele momento
Eu avistei um jumento
Pensei assim é agora
Pulei nas costas do jegue
E cutuquei nu quadril
O jumentinho esquisito
Olhou pra mim e sorriu
E disse assim: jão cocá
Tu hoje vai se lascar
Porque Deus não te ouviu
Eu então apavorado
Não sabia o que fazer
Levantei a mão direita
E comecei me benzer
E fiz o nome do pai
Desse momento jamais
Eu consegui esquecer
Pois vi a revelação
Justamente nessa hora
O jegue não era jegue
Era a dita caipora
Que me fez encantamento
Depois daquele momento
Perdi a minha memória
Pois a vereda sumiu
Caminho mais eu não via
Rodava pra todo lado
No mesmo canto eu saia
Só via folhas e galho
O pensamento bem falho
Igualzinho anestesia
Eu ali só enxergava
Os vaga-lumes piscando
Pensei que era uma seta
Que estava me guiando
Mas era a dita caipora
Eu tentava ir pra fora
E mais pra dentro ia entrando
Mas então um cascavel
Balançou forte o chocalho
Meti a mão no alforje
Tirei um dente de alho
Tirei a casca e cheirei
Neste momento avistei
Na minha frente o atalho
Segui o guizo do bicho
Fazendo grande arrudeio
O calumbi me furava
Como agüentava não sei
Voei até sem ter asa
Mas quando eu cheguei em casa
O negocio ficou feio
Pois ainda tinha um resto
Do encanto da maldita
Gorete olhou para mim
Com uma cara esquisita
E disse assim jaó cocá
Faça favor de explicar
Senão lá fora tu fica
Eu falei a caipora
Me atraiu, hoje amor
E a veia revoltada
Com muita ira ficou
Ela pegou um facão
Segurou firme na mão
E então me esperou
A mulher de tana raiva
Tava com baba na boca
Tremendo igual vara verde
E na cabeça uma toca
Eu falei vigi são bento
Me livre desse tormento
Minha mulher ficou louca
Então ouvi uma voz
Que dizia jaó cocá
A paca que tu matou
Deve então ela soltá
Porque se assim fizer
Gorete tua mulher
Vai voltar ate amar
Eu entao tirei a paca
Da minha nobre capanga
Caiu do zoi a vilide
E vi que tava de tanga
Gorete só de caçola
Eu falei nossa senhora
E acabou a cuanga.
Hoje quando vou pro mato
Levo fumo Arapiraca
Alho roxo e alho branco
Eu levo logo uma saca
Um guizo de cascavel
Só não vou mais de chapéu
Nem mato mais uma paca