A ressurreição de Lampião

Autor: Edmilton Torres

I
Lampião foi pro inferno
Depois que deixou o mundo
Não ficou nem um segundo
Queimando no fogo eterno
Um cão chamado “Moderno”
Foi por ele ameaçado
Ficou tão apavorado
Que desligou as caldeiras
Jogou água nas fogueiras
E nunca mais foi achado

II
Lúcifer ficou possesso
Quando viu tudo apagado
Pra ter tudo investigado
Mandou abrir um processo
Não obteve sucesso
Com tanta burocracia
Enquanto o inferno esfria
Lampião vai conspirando
Foi diabo se rebelando
Ficou tudo uma anarquia

III
Satanás teve um desgosto
Quando se sentiu traído
Viu seu grupo dividido
E temeu perder o posto
Chamou “Cabeça sem Rosto”
O seu fiel escudeiro
Pra prender o cangaceiro
E o grupo rebelado
“Cabeça” voltou inchado
De apanhar no traseiro

IV
Na segunda tentativa
Escolheu seu grupo a dedo
Lampião não teve medo
E partiu pra ofensiva
Sem outra alternativa
Ele pegou uma vara
Deu um pau em “Capivara”
E outro em “Capiroto”
Quebrou a mão de “Canhoto”
E os dentes de “Taquara”

V
A luta foi um colosso
Com um tal de “Zé Peludo”
Lampião deu-lhe um cascudo
Que ele cagou um osso
Escorregou em um fosso
E ficou lá entalado
Com um arame farpado
Lampião deu-lhe uma sova
Ali mesmo foi a cova
Onde ele foi enterrado

VI
Um cão chamado “Lombriga”
Todo metido a valente
Munido de um tridente
Chamou Lampião pra briga
Teve que comer urtiga
Com coquetel de pimenta
Botou fogo pela venta
E corroeu o umbigo
Contraiu um impetigo
Que até hoje não se senta

VII
Tinha um diabo magricela
Chamado de “Vira-Tripa”
Lampião meteu-lhe a ripa
Depois pegou uma vela
Enfiou em sua goela
Até chegar no traseiro
Depois pegou um isqueiro
E acendeu pelo rabo
Coitado daquele diabo
Parecia um fogareiro

VIII
Quem não teve muita sorte
Foi um tal de “Mamulengo”
Levou um murro no quengo
Que nem foi assim tão forte
Mesmo assim abriu um corte
Começando na cacunda
Uma ferida profunda
Ao longo do espinhaço
Em direção ao cabaço
Até o rego da bunda

IX
A luta mais demorada
Lampião quase perdia
A briga varou o dia
Foi até de madrugada
Ele estava na privada
Quando os capetas chegaram
Assim que eles entraram
Virgulino deu um salto
Soltou um peido tão alto
Que os capetas recuaram

X
Com a calça arriada
E o traseiro descoberto
Teve que ser muito esperto
Pra não perder a parada
Então fechou a privada
Deixou igual a uma estufa
No meio da lufa-lufa
Ele foi se esgueirando
Quando os diabos iam entrando
Morriam com gás de bufa

XI
Lampião saiu peidando
Com o cu a favor do vento
Cada peido fedorento
E os diabos foi afastando
Ninguém tava respirando
Com o gás lacrimejante
Daquela hora em diante
Lampião levou vantagem
Somente por sacanagem
Botou no cu um berrante

XII
Quando peidou no berrante
Saiu um Dó sustenido
Que estourou o ouvido
De quem estava distante
Nem no “Inferno de Dante”
Se viu tamanha tortura
Chega dava uma gastura
Aquele som dissonante
E um odor irritante
Um cheiro de merda pura

XIII
Os diabos em conferência
Decidiram em reunião
Que não tinham condição
De oferecer resistência
E iam pedir clemência
A todas as divindades
Senão as atividades
Do inferno acabariam
Todos para o ceu iriam
Com pecados e maldades

XIV
Satanás na iminência
De perder seu território
Ligou para o purgatório
Para pedir por clemência
Deus na sua onisciência
Que a tudo acompanhava
Disse que não aceitava
A volta do condenado
Pois que já fora julgado
E que no ceu não entrava

XV
Com o diabo incompetente
Pra cuidar de um condenado
O Bom Deus foi obrigado
A abrir um precedente
Pois era um caso premente
E a única solução
Foi dar absolvição
Ao cangaceiro iracundo
E mandar de volta ao mundo
O polêmico Lampião

XVI
Uma vez ressuscitado
No inferno findou a guerra
Lampião voltou à terra
Mas antes foi acertado
Seria monitorado
Pelo arcanjo Gabriel
Pra cumprir outro papel
Teve que sair de cena
E pagar a sua pena
Só escrevendo Cordel









Edmilton Torres
Enviado por Edmilton Torres em 26/03/2012
Reeditado em 16/03/2013
Código do texto: T3576088
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