Leitores quem é poeta
A escrever se obriga
E eu que poeta sou
Escrevo sem ter fadiga
De uma velha e uma moça
A mais engraçada briga.
 
No lugar onde nasci
É onde tudo acontece
Tudo que existe no mundo
Por Lá também aparece
Quem conhece minha terra
O mesmo não se parece.
 
Lá tem moça que engana
Pois de homem tem os traços
Como também tem uns homens
Que desmunhecam dos braços
Para uns isso é doença
Para outros são fracassos.
 
Tem velha que quer ser nova
E usa uma saia justa
Todo dia pinta a cara
Pra vê se ela se ajusta
Toda noite vai ao baile
Como que nova e robusta.
 
Uma velhota que já
Ultrapassava setenta
Dessa que se estala toda
Todas as vezes que senta
E se anda mais um pouco
Fica que não se agüenta.
 
Um dia foi numa festa
Toda metida à garbosa
Muito laquê no cabelo
E a cara cor de rosa
Com a roupa justa no corpo
A coisa mais horrorosa.
 
Na festa que ela foi
Tinha só mocinhas novas
E uns rapazes bonitos
Com elas tiravam prosas
E a velinha assanhada
Por ali só dando voltas.
 
Uma mocinha daquelas
Que andam emperiquitadas
Começou da pobre velha
Somente dando risadas
E toda turma com elas
Dando boas gargalhadas.
 
A velha ficou zangada
Começou o xingamento
Falou muitos palavrões
Gritou de fechar o tempo
Quanto mais esperneava
Causava divertimento.
 
Disse ela vocês todas
Mocinhas de hoje em dia
Não tem mais educação
Como antes existia
São uns bandos de galinhas
Dos galos da freguesia.
 
E esses galos coitados
Já estão de esporas mole
Ficam rufando em cima
Só se esfrega e não sobe
Novos assim desse jeito
E tudo já feito um fole.
 
Uma moça retrucou
Dizendo velha caduca
Você quer brincar com fogo
Vejo que é bem maluca
Do tipo que vai caçar
E cai na própria arapuca.
 
Irrita-me você querendo
Ser nova quando é coroa
Esta aqui nesta festa
Acho que é louca ou atoa
Não vê que eu sou novinha
Bonita e muito boa.
 
Velhota você precisa
É ir para previdência
De uma aposentadoria
Você tem certa carência
Dê entrada nos papéis
Faça isso com urgência.
 
A velha ficou danada
Com as palavras da moça
Foi lhe da um pontapé
Caiu dentro de uma poça
Levantou-se resmungando
Agora você me ouça
Eu posso ter muito idade
Mais tenho cá tudo em cima
E sou bem melhor ainda
Do que é muita menina
Qualquer homem se apaixona
Me deseja e me estima.
 
Você menina cuidado
Que você leva na cara
Comigo ninguém casôa
Brincou comigo é na vara
Passou a mão numa cerca
Pegou um pau de taquara.
 
Partiu pra cima da moça
Foi o maior reboliço
Vara por cima do lombo
Que estalava o caniço
Até que entrou em ação
A turma do deixa disso.
 
Um puxa, puxa danado
Deixa disso, calma gente
A velha grudou na moça
De unha e até de dente
 O povo se aglomerava
O clima ficava quente.
 
Foi tapa chute e dentada
Muita roupa se rasgou
Uns punhados de cabelos
Cada uma descolou
A velha sem sutiã
Tudo aquilo despencou.
 
Com as pelancas arreadas
A velha se lamentava
Não ter ela a mesma idade
Da moça que enfrentava
Maldita seja a velhice
Assim ela blasfemava.
 
E a moça ali do lado
Toda unhada pelo corpo
Hematomas na cabeça
Quase que quebra o côco
A velha disse assim
Eu ainda bati pouco.
 
Devia bater bastante
Até matar a cabrita
Nisso a moça se zangou
Ficando muito aflita
Partiu pra cima da moça
Feito uma cobra faminta.
 
Reiniciada a briga
Tapas empurrões mordidas
Uma por cima da outra
Ambas eram destemidas
Falavam quando xingavam
Só palavras proibidas.
 
Para assistir a briga
De tudo apareceu
Cachorro, gato, papagaio
Inclusive também eu
Teve gente que com medo
Dali desapareceu.
 
Pega, arranca esfola, mata
 Era o grito da platéia
A moça xingava a velha
Chamava-lhe de mo creia
A velha dizia essa
Já teve até gonorréia.
 
Nisso chegou a policia
Do delegado Caruso
Que naquele bafafá
Ficou um tanto confuso
Por ali dando mais volta
Do que porca em parafuso.
 
Com ele cinco soldados
Todos de armas na mão
Chegou a tropa de choque
Naquela ocasião
Com capacete e escudo
Pra resolver a questão.
 
A multidão que era grande
Logo foi se desmanchando
A polícia afastava
Os que estavam ficando
Enquanto a velha e a moça
Continuavam brigando.
 
Rolava as duas no chão
Uma por cima da outra
As duas enlameadas
E ambas quase sem roupa
A velha falava a moça
Dizia-lhe cale a boca.
A polícia investia
Para vê se separava
Jogaram até água fria
E a briga não apartava
A velha agarrava a moça
Que a velha também pegava.
 
Você não vale o que come
E você não tem moral
Sua casa é uma zona
E a sua um bacanal
Dizia uma pra outra
Eu vou quebrá-la no pau.
 
E partiram para cima
Valia tudo na luta
A moça dizia velha
Você já esta caduca
A velha então respondia
E você é prostituta.
 
Era puxão de cabelo
Unhada chute e mordida
Uma xingando a outra
 Nessa luta desmedida
Parecia vale tudo
No meio da avenida.
 
Essa luta demorou
Se não me foge a memória
Uma hora mais ou menos
Conforme está na historia
E deu-se onde eu nasci
Na cidade de Vitória.
 
Vitória de Santo Antão
Em Pernambuco o estado
A terra onde nasci
E por mamãe fui mimado
Ao leitor peço perdão
Se o livro foi mal rimado.
Geraldinho
Enviado por Geraldinho em 14/03/2012
Reeditado em 09/07/2014
Código do texto: T3554651
Classificação de conteúdo: seguro
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