SECA: CONVIVA COM ELA.

Foi lá no sítio malhada

Que tudo isso aconteceu

Do convívio de dois jovens

Um lindo filho nasceu

E o casal em gratidão

O nome Davi lhe deu

Era um garoto bonito

Que cresceu rapidamente

Bem feitor de amizade

Muito alegre, sorridente

Não foi alfabetizado

Ajudava ao pai somente

O pai não tinha recursos

Lá ninguém nunca estudou

Se lhe negaram instrução

Proteção Deus não negou

É por isso que Davi

De Deus amigo ficou

O sítio era na ribeira

Do velho Rio Seridó

Terra que dava feijão

Próximo se armava quixó

Dando certeza à família

Ter na mistura um mocó

Nas redondezas dali

Era grande a amizade

Todos lá se conheciam

Não se falava em maldade

Só que o passado é história

Ficou somente a saudade

Tudo transcorria bem

Quando surgiu algo novo

A terra que tudo dava

Passou a ser um adovo

Nada mais se produzia

A fome atacava o povo

Por causa desse cenário

Uma mudança ocorreu

Quem vivia do roçado

O que se plantou perdeu

E do maior fazendeiro

Quase a boiada morreu

A mudança foi total

Massacrando muita gente

Bichos morreram de sede

Tudo isso de repente

Pois o sol bebia a água

Monstro cruel, indecente

O menino vendo a seca

Destruir a plantação

Humildemente lembrou

De fazer uma oração

Pedindo a Deus, Jeová

Que mostrasse a solução

Davi sonhando com Deus

Ouviu dele algo assim:

Compreendo o aperreio

Mas não bote a culpa em mim

Seca de tempos em tempos

Haverá até o fim

Por favor, preste atenção

Ao meio em que você mora

No sertão eu pus de tudo

A solução não demora

Persistam, nunca desistam

Não esperem por esmola

Você vai aprender hoje

A título de ilustração

Maneiras de conviver

Com a seca no sertão

Outras formas se aprendem

Pela observação

Quando você acordar

Se reúna em assembléia

Avise aos moradores

Que uma era nova estréia

Na vida do sertanejo

E explique a minha idéia

Diga a quem possuir gado

Que o rebanho é pra vender

Passem a criar ovelhas

Muitas cabras devem ter

Pois a ração de uma vaca

Cinco cabras vão comer

E se no leito do rio

Não tiver água corrente

Então cavem uma cacimba

Ou buraco equivalente

E terão em abundância

O líquido daqui pra frente

Se a água da cacimba

Só servir aos animais

Procure num umbuzeiro

As raízes principais

Retire então a batata

Repleta de água e sais

Para resolver de vez

Outra solução moderna

É você captar água

Da chuva numa cisterna

Pondo as calhas nas telhas

Da casa na parte externa.

E no curso dos riachos

Bom é construir barragem

Se for da subterrânea

No sertão só há vantagem

Acaba a evaporação

Grande será a forragem

Depois da barragem pronta

Faça ao lado uma palhoça

Escolha o melhor terreno

Plante uma pequena roça

Que após noventa dias

A produção se almoça

E para ter proteína

Alimentar corpo e cuca

No mato bem disfarçada

Faça e arme uma arapuca

Pegue só o necessário

Agindo assim sempre educa

E para limpar molambos

Acertar na assepsia

Leve a roupa ensaboada

Para o rio numa bacia

Por cinco dias seguidos

Enterre na areia fria

Por último, dou um conselho

Aos ases da valentia

Numa mulher sertaneja

Somente se acaricia

Bater, eu não admito

Eu detesto covardia

Espero que este povo

Da sua mente desloque

Todo pensar negativo

Pelo positivo troque

Produza na abundância

Guarde o excesso em estoque

Conforme Deus ensinou

Davi tomou por lição

Aprendeu a conviver

Sem fome no seu torrão

Derrotando a seca imunda

O Golias do Sertão