História de João Dória e a Besta da Lagoa

Estrofes: sextilhas

Rimas: A B C B D B

Número de estrofes: 79

História de João Dória e a Besta da Lagoa

Essa é a história

Contada sem aflição

Por alguém que não rebate

Outra saudosa versão,

Pois só sabemos um pouco

De uma verdade em questão.

Por isso peço ao leitor

Para não ficar à toa

Para conhecer a história

De João Dória em pessoa

Lutando com muita força

Contra a besta da lagoa.

Tudo começou quando um dia

Com bastante imprecisão

Veio sentido ao mundo

Alguém chamado João

De sobrenome Dória

Valente como um leão.

Dizem que quando nasceu

Causou logo uma intriga

Entre seu pai e sua mãe

Que começaram uma briga,

Pois ele era diferente

Folha seca sem ter figa.

Chegou aos dois anos de idade

Sem nunca ter tido um pranto.

Por isso que sua mãe

Lhe dera nome de santo.

O pai ficava na espreita

Isso eu já adianto.

Aos vinte anos de idade

Ouviu um chamado fecundo

Preparou logo a sacola

Saiu com o olho bem fundo

Na estrada da vida

Partiu em direção ao mundo.

Foi caminhando na estrada

Procurando uma estadia

Achando que um trabalho

Alguém ali lhe daria,

Mas a coisa estava feia

Pra arrumar freguesia.

Parou em uma fazenda

Querendo ali ser peão.

O fazendeiro lhe disse:

- Fique sem aflição,

Pode lhe faltar outra coisa,

Porém não lhe falta o pão.

O nome dessa fazenda

Se chamava Andorinha

João se alojou nela

Numa casa de farinha

Depois partiu para a lida

Apartando uma vaquinha.

Ficou ali por um tempo

Sempre trabalhando na lida

Não tinha medo da roça

De uma natureza devida

Derrubava boi no chão

Com uma corda comprida.

Porém vou deixar um pouco

A labuta de João

Para falar que ali perto

Habitava uma aberração

Apelidada de besta

Da lagoa serração.

Essa besta tomava a forma

De uma mulher muito bela

Matando os desavisados

Que passavam perto dela

Porém ninguém nunca vira

A verdadeira forma que era.

Teve um dia que essa besta

Mostrou porque era fera

Matando vinte pessoas

Como foice que acera

Estava certo que ali

Tinha finalizado uma era.

Quando menos se esperava

Perto da redondeza

Aparecia um defunto

Sendo vítima da empresa

Provocada pela fera

Da mais cruel natureza.

Foi então que assim

Se prometeu recompensa

Para o fiel corajoso

Que fizesse cumprir a sentença

Matando aquela besta

De uma força imensa.

Diziam que aquela besta

Era muito inteligente

Para atrair as pessoas

Tinha um poder envolvente

Diziam que por um tempo

Foi do inferno gerente.

Um rico fazendeiro

Dono das terras que habita

Esta fera tão cruel

De uma missão bem maldita

Prometeu grande riqueza

Para quem vencesse a partida.

Este rico fazendeiro

Para fugir do escuro

Prometeu uma fazenda

E um mais rico futuro

Mil cabeças de gado

Para não ficar no apuro.

Além de toda riqueza

Num acordo confirmado

Dava a mão de sua filha

Para quem viesse ao estado

Lhe salvar da tormenta

Na qual estava prostrado.

Muitos pretendentes

Vieram assim concorrer

Afirmando que ali

A besta iria morrer,

Mas quem morreu foram eles

Sem ter muito que fazer.

Mas vou deixar a questão

Já sem muita ladainha

Para falar de João Dória

Na fazenda Andorinha

Não muito distante dali

Sendo quase vizinha.

João nesta fazenda

Não recebia o ordenado

Vivendo a pão e farinha

Na vida de alugado

Queria partir sem demora

Já bastante apressado.

O patrão lhe disse: – meu filho!

Pode partir com atenção

Aqui nesta fazenda

Só se vive como cão,

Pois aqui na redondeza

Habita uma aberração.

João não entendeu

Achando uma contradição

Nunca região tão rica

Só se viver com o pão

Farinha de mandioca

Faltando até o feijão.

Que saiba bem o leitor,

João não ouvira falar

Da besta da lagoa

Que só vivia a matar

Sempre na redondeza

Saindo sem medo de errar.

João só trabalhava

Cuidando somente da lida

Não era bom pra conversa

Pra confirmar sua vida

Nem queria que ali

Lhe fizessem despedida.

Ele pegou suas coisas

Quis partir sem demora

Acertando com o patrão

Uma rota vantajosa,

Mas não quis regressar

Foi em direção da aurora.

Explico o acontecido

Já conhecendo a questão

Ele partiu sem demora

Para a mesma direção

De onde habitava a besta,

Pois sem muita informação.

A estrada estava deserta

Ele ficou afobado

Achando que era melhor

A vida de alugado

Pensou em regressar,

Porém continuou no andado.

Não quis saber de conversa

Mas logo prestou atenção

Sem entender muito bem

O que lhe disse o patrão

Quando falou que ali

Habitava uma aberração.

João tinha pra si

A certeza que iria

Conseguir bom trabalho

Na vida em que vivia.

Pra ele matuto esperto

Não conhece a covardia.

Depois de duas horas

Nessa sua caminhada

Encontrou uma pessoa

Que ia bastante vexada

Sem lhe dar muita atenção

Continuou na mesma estrada.

João achou muito estranho,

Mas logo ficou contente

Ao avistar uma fazenda

Naquele deserto envolvente

Pensou consigo então:

“Agora é que eu vejo gente”.

Pois saiba bem o leitor

Aquela fazenda era

A fazenda que falei

A mais perto da fera

Ele, pois sem saber

Pulou logo a cancela.

O dono desta fazenda

Quis saber do atrevido

Chamou logo um capanga

Armado bem prevenido

João parou no terreiro

Já bastante decidido.

O fazendeiro lhe disse:

– O que quer no meu partido?

João então respondeu:

– Trabalho pra desvalido

Que não teme assombração

Nem tem medo do perigo.

O fazendeiro respondeu:

– Deixe de ser afoito

Aqui na redondeza

Só se come mesmo biscoito

O jovem morre donzelo

Antes mesmo dos dezoito.

João lhe respondeu

Logo na mesma batida:

– Eu só procuro trabalho

Não tenho medo da lida

Vou relevar sua ofensa

E sua mal acolhida.

– Se está procurando trabalho

Lhe prometo uma partida

Ofereço uma fortuna

Pra melhorar sua vida

Se vencer ganha a fortuna

Se perder vai sua vida.

João ficou pensativo,

Mas sem muito entendimento

Deixando vagar no espaço

Seu mais firme pensamento

Procurou explicação

Na mesma hora e momento.

– O que queres que faça

Pra ganhar sua questão?

– Ir à beira duma lagoa

Trazer água na mão

Ser valente pra matar lá

Uma feia aberração.

– Qual é então a fortuna

Que você está falando?

– Uma fazenda briosa

A mais bela se pensando,

Mil cabeças de gado

Você mesmo vai contando.

Além disso ofereço

De minha filha a mão

Pra se casar com ela

Só vencendo a questão

Porque homem frouxo

Não merece sua atenção.

Antes de terminar a conversa

A filha do fazendeiro

Foi saindo pela porta

Para ver o forasteiro

Sua beleza era tanta

Que João caiu de joelho.

Foi então que João disse:

– Assim eu topo a parada

Mato sua aberração

Dela não sobra nada

Nunca achei nessa vida

Alguém que me dessa pancada.

A moça se consolou

Pois João era formoso

Era valente e decidido

Bastante audacioso

Topando logo de cara

Esse caso curioso.

João descansou um dia

Naquela fazenda mimosa

Na casa da donzela

Bela a majestosa

No outro dia cedinho

Foi na missão perigosa.

Preparou a sua armada

Sempre com muita atenção

Toda a bala que tinha

Colocou num cinturão

Uma faca na cintura

Do outro lado um facão.

O fazendeiro pensou

“Esse é mais um sem noção

Achando que pode vencer

Aquela aberração

Nem o exército é capaz

De finalizar a questão”.

João saiu sem demora

Acenando com uma mão

Montado saiu correndo

No cavalo azarão,

Pois o dito fazendeiro

Não deu seu alazão.

Ele foi seguindo

Na direção primeiro

Como bem indicou

O dito fazendeiro

Antes de chegar à lagoa

Pulou do cavalo ligeiro.

Escutou de longe um urro

Vindo de lá da lagoa

João logo pegou

A faca que era boa

Amarrou o cavalo na árvore

Para não ficar à toa.

Foi logo se aproximando

Com o passo comedido.

De longe ele avistou

Um vulto feio, indevido.

Foi parando novamente

Sem nada saber do perigo.

A besta logo escutou,

Se transformando em donzela.

De uma beleza envolvente

Com uma roupa amarela.

João pensou consigo

“Que brincadeira era aquela?”.

Ele se aproximou

Achando aquilo uma ofensa.

O fazendeiro falou numa besta,

De uma força imensa,

Porém ele só avistou

Uma mulher em sua presença.

Ele se aproximou

Parando perto de um poço.

Tropeçou no mesmo instante

Em uma pilha de osso

A mulher se transformou

Em uma visão de desgosto.

Surgiu logo uma cauda

E dois pares de dentes.

Na cabeça dois chifres,

Garras bem contundentes,

E ainda apareceu no rosto

Dois olhos reluzentes.

João ficou preparado

Não temendo agressão.

Segurou firme o revólver

Dizendo sem aflição:

– Eu hoje aqui vou findar

Seu dia de aberração.

Ela partiu em seguida

Bem na sua direção,

Mas ele sem esperar

Foi derrubado no chão,

O revólver caiu bem longe,

Bem longe de sua mão.

Ele então preparou-se

Pulando com energia.

Pegou logo o facão

Dizendo sem covardia:

– Eu hoje lhe dou um fim

Antes de acabar o dia.

A besta tinha uma força

De um demônio singular.

Também foi o inferno

Por muito tempo o seu lar.

Por isso que foi dizendo:

– Quero ver me liquidar!

João se atracou com ela

Caindo na ossaria.

Ele caiu por cima

Ela por baixo gemia

Um osso furou-lhe a perna

Fazendo uma atravessia.

Ela saiu bem ligeira,

Num movimento acrobático.

Puxou o osso da perna

Num movimento dramático.

Soltou um urro horrendo

João ficou apático.

A besta soltando o urro

Deixou o fazendeiro afobado

Achando que morreria

Naquele estado agourado,

Pois da fazenda se ouvia

Aquilo que tinha passado.

A besta foi sem demora

Na direção de João

Ela mais uma vez

Lhe derrubara no chão

Ele então nessa queda

Quebrou um braço e uma mão.

Ele ficou de pé

Num movimento afinado,

Pois no momento da queda

A faca estava a seu lado,

A besta sem perceber

Ele o tinha cravado.

Naquele momento então

Começou a escorrer

O sangue azulado da besta

Ela sem entender.

João ficou confiante,

Mas não pôde se benzer.

Ela tirou um pulo,

Mas já fraca e sem ação

Procurando uma distância

Buscando a salvação,

Mas caiu morta em seguida

Sem fazer mais mutação.

João pegou o facão

Pra cumprir seu juramento

Tirou-lhe uma parte da besta

Pra comprovar no momento

Que cumprira sua missão

Sem nenhum impedimento.

João foi sem demora

Pegou então essa parte

Com bastante ousadia

Com muito engenho e arte

Colocou assim num saco

Pra exibir como estandarte.

Foi então caminhando

E quase caiu no poço.

Pegou o seu cavalo

Montando com muito esforço,

Pois quebrara o braço e a mão

E quase também o pescoço.

O combate daquele dia

Foi bastante violento

João estava cansado

Com muito aborrecimento

Doía todo o seu corpo

E até seu pensamento.

Quando o fazendeiro o avistou

Vindo por dentro do mato

Ficou muito contente,

Porém ainda bem casto,

Pois pra comprovar a vitória

Era preciso ter um fato.

João com muito cuidado

Mostrando sua capacidade

Jogou no terreiro da casa

O corpo da besta à metade,

Porém caiu em seguida

Com muita enfermidade.

A filha do fazendeiro

Tomou logo direção

Para curar as feridas

De seu pretendente João.

Este em pouco tempo

Estava bom da aflição.

O fazendeiro cumpriu

Com bastante honraria

O que prometeu a João

Toda a fortuna que havia

Mais a mão de sua filha

Com bastante nostalgia.

Na hora e dia marcado

Ocorreu o casamento

Estando o pai de João

E a mãe naquele momento

Presentes na celebração

Com bastante sentimento.

João ficou muito rico

Com muita prosperidade.

Sua valentia foi conhecida

Da roça até a cidade,

Pois naquela região

Reinou a tranquilidade.

Essa foi a história

De João Dória em pessoa

Vencendo naquele tempo

Para não ficar à toa

Em um combate mortal

A besta da lagoa.

Leon Cardoso
Enviado por Leon Cardoso em 29/02/2012
Reeditado em 09/02/2021
Código do texto: T3527102
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