O CORDEL DO CORISCO ... 01
CORDEL DO CORISCO - 01
Acontecem muitas coisas nesta vida
Que causam as alegrias e as tristezas
Não considere que a vida está perdida
Pois podem surgir muitas surpresas
E o tempo cicatriza qualquer ferida
A gente pode notar todas as belezas
Se agirmos como manda o coração
Comigo, aconteceu exatamente assim
Eu nasci onde o vento encosta o cisco
Lá onde o sertão parece não ter fim
Pro lado de baixo do rio São Francisco
Era um moleque que confiava em mim
Todos ali me apelidaram como Corisco
Pois, comigo não tinha conversa, não
Na verdade, sempre fui muito esperto
Do que menos gostava era da escola
Dos coronéis nunca chegava nem perto
Que pagavam pelo trabalho uma esmola
Ficava o dia inteiro num campo deserto
O meu objetivo sempre foi jogar bola
E fazia disso a minha grande paixão
Era um atacante grandão e desajeitado
Ficava na área, não perdia oportunidade
Quando chegava uma bola pro meu lado
Jogava prá dentro do gol, sem piedade
Nas cabeçadas, então, tinham cuidado
Era um coice de burro, na pura verdade
Fazer gols me dava muita satisfação.
Sempre lutei por aquilo que acreditava
Enfrentava de frente todas dificuldades,
Se era desafio, era disso que eu gostava
Nunca pensei em falta de possibilidades
Mesmo escondido ali, eu ainda sonhava
Que um dia surgiriam as oportunidades
Imaginava lances que faria neste mundão
Entre os sonhos, devaneios e treinamentos
Certo dia, surgiu por lá o time do Cruzeiro
Prá jogar com a seleção de cidades vizinhas
Eu que teria de aproveitar aqueles momentos
Da minha, fomos convocados eu e o goleiro
Lá fomos nós enfrentar as camisas azulinhas
Ao entrar em campo mal contive a emoção.
Nesse jogo meti logo dois gols bem bonitos
Ambos, aproveitando duas bolas cruzadas
Numa acertei uma bomba de perna direita
Só vi quando a torcida entre palmas e gritos
E gritando o meu nome entre muitas risadas,
Calou-se no segundo, numa cabeçada perfeita
Quando venci o Raul, aquele goleiro bonitão.
A equipe deles era formada por muitos talentos
Piazza, Dirceu e Tostão faziam o meio campo
O Procópio e William eram zagueiros famosos
No ataque o Natal e Evaldo eram como ventos
Foram considerados rápidos, como o pirilampo
Nas laterais o Neco e Pedro Paulo, voluntariosos
Aquilo sim, podia ser considerado como um timão.
Quando terminou o primeiro tempo desse jogo,
O técnico Yustrich me chamou para o vestiário
Perguntou se queria ser um jogador profissional
Respondi apressado que sim, com o rosto em fogo
Aquilo foi o meu maior presente de aniversário,
Fazia dezoito anos e já me sentia como um maioral
Nem acreditava que era aquele caipira do sertão.
(continua}