A discussão do ateu com o crente

Estrofes: sextilhas

Rimas: A B C B D B

Número de estrofes: 32

Autor: Leon Cardoso

A discussão do ateu com o crente

Religião e política

São temas que contraria

A opinião de alguns

No campo da simbologia

O crente acredita em Deus

E o ateu na utopia.

Quero aqui retratar

Usando a sabedoria

Sem tomar um partido

Com bastante simpatia

Há ateus acreditando em si mesmo

E outros em utopia.

Retomo aqui esse tema

Pra falar com atenção

De uma discussão pesada

Sem fazer abafação

De um crente com um ateu

Que deu muita falação.

O crente vinha da igreja

O ateu de uma estação

Pegaram o mesmo ônibus

Rumo à mesma direção

O crente leu um versículo

Levou logo um empurrão.

O cristão não entendeu

O porquê da ousadia

Leu mais um versículo

E falou da profecia

Pra ver se no fim de tudo

Alguém ali se convertia.

O crente na sua fala

Era bastante didático,

Porém provocou o ateu

Que estava num canto apático

Este ficou de pé

Num movimento acrobático.

– Só mesmo podia ser crente

Ainda por cima fanático

Pra tirar nosso sossego

Com um discurso emblemático

Fala tanto em vida eterna

Vivendo como lunático.

O povo ficou em silêncio

Fazendo da cena um estudo

Sem tomar logo um partido

Deixando o crente queixudo

Preparando um argumento

Pra acabar com o linguarudo:

– O povo precisa ter fé

Pra ter assim harmonia

Pra ter muita esperança

Toda a noite e todo o dia

Ateu vive isolado

Só acredita em utopia.

Todos permaneceram em silêncio

Esperando uma resposta do ateu

Achando que a crítica

O crente não respondeu

E na avenida distante

O carro cantou pneu.

– Não creio em utopia

Seja mais abalizado

Não critique sem saber

Deixe de ser afobado

Crente só fala em deus,

Mas só vive no pecado.

O crente ouvindo tudo

Começou a se benzer

Achando que era o demônio

Que foi ali contradizer

Os ensinamentos divinos

Fazer o povo descrer.

– Isso que você diz

Está muito atrasado

Crente não pensa assim

Deixe de ser assombrado

O demônio lhe persegue

Venha logo pro meu lado.

– Não vou para o seu lado

Pra não ficar no engano

Rezando noite e dia

Balançando como oceano

Deus nessa vida cansada

Para todos tem um plano.

– Minha vida não é cansada

Nos termos que você diz

É cansada do trabalho

Não me arrependo do que fiz

Faria tudo novamente

Não preciso de juiz.

O povo ouvindo tudo

Começou a aplaudir,

Pois aquela discussão

Começou a divertir

O crente pra não perder

Começou a reagir.

– Você é muito inteligente

Percebi logo na hora,

Porém a sabedoria

Em você não se aflora

Se sabe viver a vida

Me diga ai sem demora.

– Você com estas palavras

Não me deixa abatido

Sei bem viver a vida

Não preciso de partido

Sei muito bem que fazer

Tenho tudo definido.

– Se sabe viver a vida

Me diga então sem demora

Se conhece bem a beleza

Deixada pela aurora

Se deixa perdido no mato

Cigarro pra caipora.

– Sei bem viver a vida

A prática me valida

Conheço bem a beleza

Da aurora à margarida

Da caipora fumo o cigarro

Ela que fique perdida.

O crente mal no debate

Pensou em dar um murro

Na fuça do arrogante,

Mas soltou apenas um urro

– “Para fora do combate

Com o pensamento lhe empurro".

Pensando dessa maneira

O crente ficou alterado,

Mas soube se controlar

Dizendo: – está acabado

Acaba aqui o debate

Desço no ponto ao lado.

– Se quiser continuar a conversa

Não fique na aflição

Me procure na igreja

Não fique sem direção

Ateu não conhece a luz

Vive só na escuridão.

Depois que falou isso

Desceu da lotação

O crente com aquilo tudo

Aprendeu uma lição

Não mais entrar em debate

Cada um com o seu quinhão.

O crente não mudou sua fé

O ateu não virou santo

Discutir religião e política

Não é benéfico pra tanto

Por isso fique acertado

Vá cada um pro seu canto.

“É melhor perder um debate

Que perder a salvação”

Isso o crente falou

Pensando consigo então:

– Mesmo que não acredite

Ateu tem parte com o cão.

Quando o crente saiu do ônibus

O ateu ficou contente

Se achando muito esperto

Ainda mais do que o crente

Achando tudo engraçado

Num pensar inconseqüente.

O ônibus fez uma curva

O ateu caiu derrepente

Logo desconfiou

Daquele breve incidente

Achando que aquilo tudo

Fora por causa do crente.

Aqui vou finalizando

No melhor entendimento

Após saber que o ateu

Fizera um juramento

De não discutir religião

Independente do momento.

Cada um guarde pra si

O seu mais firme pensamento

Para não desmerecer

Do outro o sentimento

Cada um acredita no que quer

Buscando seu fundamento.

Por isso percebemos

Que com aquela discussão

Tanto o crente, quanto o ateu

Tomaram a decisão

De não mais discutir sobre o tema

Estava finalizada a questão.

Leon Cardoso
Enviado por Leon Cardoso em 22/02/2012
Reeditado em 22/02/2012
Código do texto: T3512821