A Revolta dos Centauros
Jorge Linhaça
Toda pequena cidade
Tem o seu Zé do barranco
Não importa a idade
posição na sociedade
Nem se é negro ou se é branco
O popular apelido
vem da tara do sujeito
que sacia a libido
Num barranco escolhido
com as éguas satisfeito
Contam que numa cidade
a coisa degringolou
o capeta por maldade
deu-lhes pois posteridade
e aos centauros criou
Misturou cavalo e homem
numa nova criatura
Mais feroz que lobisomem
que de dia sempre somem
e voltam na noite escura
Os filhos do Zé Barranco
sairam fêmêas e machos
e encheram o seu rancho
de um horror muito franco
morando ao pé do riacho
Quem os via de relance
a verdade não sabia
e eles longe do alcance
pareciam ao passante
um homem na montaria
Zé de todos escondia
a vergonha recebida
e a prole se estendia
os centauros davam cria
Já gerando outras vidas
Zé ficou agoniado
Como manter tal segredo?
seria amaldiçoado
por todos do povoado
espalhando ali o medo
Com a consciência aflita
cilada premeditou
atraiu-os para a bica
com refeição farta e rica
e fogo à volta ateou
Pelo fogo já cercados
procurando uma saída
os centauros davam brados
prestes a ser imolados
tementes por suas vidas
Por acaso do destino
ou pela ação do diabo
o fogo foi se extinguindo
aos centauros permitindo
fugir por um dos seus lados
Quando o Zé se deu por conta
já estava ele cercado
e pagou por sua afronta
foi ao demo prestar contas
após ser pisoteado.
Os centauros reunidos
velhos, adultos crianças
após haver ao Zé punido
passaram a ser movidos
pelo instinto da vingança
Para não correr o risco
de uma outra crueldade
sumiram igual corisco
pelas matas bem ariscos
Jurando morte à humanidade
continua...se vocês quiserem, claro.
Salvador, 17 de fevereiro de 2012