O MAGRO DA GAITA ( Homenagem a Edu da Gaita )

O MAGRO DA GAITA

( Homenagem a Edu da Gaita)

Jorge Linhaça

Nasceu nas bandas de Jaguarão

No Estado do Rio Grande do Sul

Com o nome de Eduardo Nadruz

Filho de homem de projeção

arrendatário do cinema então

Foi estudar em Pelotas menino,

No internato São Luiz Gonzaga

colégio de padres daquelas plagas,

foi em Pelotas que quis o destino

dar contato ao menino franzino

Com a gaita de boca primeira vez

o representante local da fábrica

de gaitas Hohner um concurso fez

Edu usou a clássica como temática

o estudo de Chopin número três.

Para ele não foi algo significativo

pois tocava apenas por tocar

dono era de um ouvido singular

não era em música instruído

bastava ouvir para executar

Em São Paulo quis trabalhar

na rua 25 de março no comércio

mas não logrou sestércio

até que viu um gaiteiro a tocar

para umas moedas ganhar.

Foi quando ali na Casa Manon

ao falar com o gerente frustrado

pelo estoque de gaitas, encalhado

propôs ganhar por comissão

em cada gaita vendida então

Foi tocar gaita do lado de fora,

para atrair assim a freguesia

foram 24 vendidas num dia

com a "gaita" e a gaita agora

um novo caminho se lhe abria

Trabalhou ainda como camelô

cantava tangos na boemia paulista

tinha alma mesmo de artista

No carnaval de 34 ao Rio chegou

e foi por ali que se instalou

Tocou na balsa da travessia

de Niterói ao Rio de janeiro

para ganhar algum dinheiro

até ser ouvido um certo dia

por Silvio Caldas, que maravilha

Foi parar na Rádio Mayrink Veiga

onde fez o seu primeiro contrato

muito antes de obter o estrelato

e foi pela voz de Cesar ladeira

que ganhou a alcunha faceira

Foi em 39, à mesa no Café Nice

ao falar com o pianista Nonô,

Fernando Albuquerque chegou

e ter comprado uma gaita lhe disse

em Nova York onde excursionou

Era uma gaita bem diferente

tinha uma tal escala cromática

A súplica de Edu foi enfática

e não se deu mais por contente

sendo por demais insistente

Até que Fernando já vencido

foi a gaita ao hotel buscar

para o magro poder analizar

Edu ficou logo embevecido

pelo instrumento conseguido

Depois de um pouco analizar

levou o instrumento à boca

e tocou com gana louca

como se já fosse ela o seu par

desde um tempo milenar.

Foi a partir daí que decidiu

estudar gaita à sério mesmo

e não mais tocar a esmo

para as partituras partiu

com desejo muito varonil.

Onze anos se empenhou,firme,

gastou os beiços no instrmento.

estudando cada movimento,

do moto perpétuo de Paganini

para ser o primeiro, imagine

a num instrumento de sopro tocar

num instrumento inusitado

a peça composta e já secular

sem pausas nem pra respirar

até que se sentiu preparado

Foi no Estúdio da Continental

que cercado por jornalistas

e Lou Perachi como pianista,

que em cincoenta seis afinal

fez a sua execução imortal.

O mundo ficou apequenado

para o talento do artista

que sendo bom nacionalista

embora internacionalizado

no Brasil sempre foi radicado

Morreu em oitenta e dois no Rio

sem ver seu sonho realizado

de ver seu instrumento elevado

às cadeiras dos conservatórios

como um instrumento meritório

O "magro da gaita" deixou

uma herança músical digna

cumpriu aqui a sua sina

ao mundo todo impressionou

e seu amado Brasil honrou

Que pena que o esquecimento

cubra sempre os idealistas

que se olvidem as conquistas

relegando a frações de tempo

artistas de tanto talento

Mas o magro, por certo imortal,

há de estar ainda a tocar

sua gaita e a muitos encantar

lá na grande esfera celestial

junto a outros de bom cabedal