O DIA QUE O MUNDO ACABOU NAS TERRAS DO MARANHÃO
Trecho do Cordel:
Porém veja como é
Que se dá com gente ruim
As lanchas de seu Mané
Juntas com as de seu Crispim
Umas indo outras voltando
Viviam negociando
Nas águas do Mearim.
O tempo todo era assim
Tudo tinha pra vender
O povo já esperava
Todo mês pra abastecer
O comércio da cidade
Que aguardava as novidades
Que as lanchas íam trazer.
E dessa vez ia ter
Umas matérias mais finas:
Óleo díesel, querosene
Dissolvente, gasolina,
Carbureto, aguarrás
Dedetê, bujão de gás
E tinha até vaselina.
Vinho tinto, parafina
Que o vigário encomendou
Desodorante, perfume
Espuma pra estofador
E pólvora Chão Brasileiro
Que seu Pedro Fogueteiro
Antecipado comprou.
Quando uma lancha apontou
Na curva da serraria
A de traz não se atentou
E bateu na lancha guia
E essa, mais carregada,
Não aguentou a pancada
Furou toda lataria.
A noite virou um dia
Houve uma grande explosão
As lanchas pegaram fogo
No céu voava bujão
Que pelo ar explodia
E o combustível caía
Foi grande a devastação.
Muito longe ia o clarão
Num lampejo furibundo
O fogaréu se alastrava
No rio que era bem fundo
Estremecia a cidade
E quem viu disse, «É verdade,
Está se acabando o mundo!»
Não demorou dez segundos
Pra se abraçar intrigados
Para os grandes pecadores
Confessarem seus pecados
Todos pedindo perdão
Declaração de traição
Mulher e homem casado.