O BODE DE SÃO MAMEDE

No sertão se faz promessa

Pra todo tipo de santo

Em toda cidade tem

Promessa de canto a canto

Novena com ladainha

Todo tipo de meisinha

Promessa até pra acalanto.

É tanto nome de santo

Pra poder fazer promessa

Senhora dos impossíveis

Outras senhoras diversas

São Longuinho dos achados

E outros tantos inventados

Com imagem controversa.

Mas chega dessa conversa

Que parece preconceito

Pois a poesia convida

A falar sobre um sujeito

Que consequências não mede

Fez promessa a São Mamede

Por causa de um amor desfeito.

Faustino, irmão do prefeito

Certa feita num pagode

Por perder a namorada

Prometeu o que não pode,

Com o santo teve uma conversa

E lhe fez uma promessa

De presentear um bode.

Promessa assim não se pode

Que o vaticano condena

Era o festejo do santo

E começou as novenas

Daí era tanta gente

Que do Domingo pra frente

A igreja ficou pequena.

Faustino perdeu Helena

Só não sei dizer porque

Ele tinha uma taperinha

E lá achou de fazer

Um chiqueiro pro indivíduo

Que no seu tempo devido

Haveria de trazer.

No primeiro proceder

Capou o bode depressa

Depois do bicho sevado

Ele disse, a hora é essa

A consciência me pede

E eu sei que São Mamede

Vai se agradar da promessa.

Saiu com o bode depressa

Enquanto pensava assim:

- Quando eu lhe entregar o bode

O santo estala os dedim

Fala com Nosso Senhor

E Helena, que é meu amor,

Vai logo voltar pra mim.

A promessa foi assim:

Ele devia chegar

Bem na hora da novena

Ir até o pé do altar

Mas tinha que ser montado

Deixar o bode amarrado

Onde o santo se agradar.

E haja o povo chegar

Na igreja pra oração

Quando aparece Faustino

Com aquela armação

O padre ainda se vestia

Quando ouviu na sacristía

O grito do sacristão.

«Valei-me, São Sebastião!

Esse negócio não pode!

Isto aqui é uma igreja,

Não é casa de pagode!»

Chegou no padre correndo

E foi logo lhe dizendo

Sobre a promessa do bode.

O padre nem se sacode

Nem ficou incomodado

E disse pro sacristão

Pra ele ficar calado

Sobre a promessa do moço.

- Isso dá um bom almoço

Se o bode for conservado!

O sacristão revoltado

E cheio de preconceito

Diz pro padre repensar

Na promessa do sujeito

Explicou que o tratado

Era o cabra ir montado,

Disse o padre: - Eu não aceito!

Ainda meio contrafeito

Ordenou ao sacristão:

- Deixe a igreja fechada

Que eu invento uma explicação

E que lá no patamar

Espere o homem chegar.

Essa é minha decisão.

Faustino em sua missão

Chegou cheio de alegria

Pensando em dar o presente

Sem nenhuma burocracia

Vendo a igreja fechada

Não quis mais saber de nada

E começou a baixaria.

Gritava com valentia:

- Abra que eu quero entrar!

Trouxe um presente pro santo,

Deixe o povo apreciar,

Se não eu faço zuada

Não tem missa, não tem nada,

E eu acabo com o altar.

Sacristão a gaguejar

Ficou logo sem ação

Tremia igual vara verde

Com medo do cidadão

O padre pensou, pensou,

Na mesma hora encontrou

Do problema a solução.

E disse pro sacristão:

- Volte lá pro patamar

Leve este santo pequeno

Pra ele não desconfiar

E diga, tá aqui, dotor,

Trouxe o santo pro senhor,

Pode lhe presentear.

O outro a desconfiar

Respondeu sem nenhum ai:

- Eu não posso dar pro filho

O que prometí pro pai,

A consciência me pede,

E pra esse São Mamede

O meu presente não vai!

O padre disse: - Ai, ai, ai,

Isso na igreja não pode!

Deixe de ser saliente

Se não te tiro o bigode

Te pego, dou-te uma peia

E no fundo da cadeia

Tu vai dormir com teu bode!

Isso aqui não é pagode

Pro senhor vir bagunçar

Tiro já essa batina

Te jogo bem para o ar

Dou-te um banho de água quente

Pra tu aprender a gente

E a santo respeitar.

- Padre, pare o bafafá,

Quem não pode se sacode!

O senhor quer estragar

Minha promessa mas não pode,

Pode vir até o papa

Que nós se pega no tapa,

Mas eu entrego esse bode!

Padre vendo que não pode

Mudar o seu proceder

Disse: - Não tenho intenção

De discutir com você.

Vamos deixar de capricho,

Pois no fim das conta o bicho

Eu mesmo é que vou comer.

O padre disse: - Ai, ai, ai,

Isso na igreja não pode!

Deixe de ser saliente

Se não te tiro o bigode

Te pego, dou-te uma peia

E no fundo da cadeia

Tu vai dormir com teu bode!

Isso aqui não é pagode

Pro senhor vir bagunçar

Tiro já essa batina

Te jogo bem para o ar

Dou-te um banho de água quente

Pra tu aprender a gente

E a santo respeitar.

- Padre, pare o bafafá,

Quem não pode se sacode!

O senhor quer estragar

Minha promessa mas não pode,

Pode vir até o papa

Que nós se pega no tapa,

Mas eu entrego esse bode!

Padre vendo que não pode

Mudar o seu proceder

Disse: - Não tenho intenção

De discutir com você.

Vamos deixar de capricho,

Pois no fim das conta o bicho

Eu mesmo é que vou comer.

Entre foguetório e pranto

O bode se espantou

Correu arrastando o santo

Uma cadeira derrubou

Haja mulher desmaiando

Crianças se machucando

Quando Faustino gritou:

- Segure o bode, Senhor!

Santo num tem força não?

Se Mamede não consegue

Peça ajuda ao sacristão

Não tenho mais nada a ver,

A promessa era trazer

E entregar na sua mão!

Com coragem o sacristão

Desamarrou a imagem

O bode se vendo livre livre

Se escafedeu na ramagem

A polícia em desatino

Chegou pra prender Fustino

Pela sua vadiagem.

Quebrada a venta da imagem

No final desse pagode

Faustino perdeu Helena

O padre perdeu o bode

Antes de fazer promessa

Leia uma história dessa

E só prometa o que pode!

Zé Lacerda
Enviado por Zé Lacerda em 11/02/2012
Reeditado em 02/08/2014
Código do texto: T3493940
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