CORNO - SER OU NÃO SER

Ser corno não é defeito

Também não é profissão

Isso é coisa que acontece

Por causa do coração

Só quem é corno é que sente

O chifre é proveniente

De uma decepção.

Corno virou tradição

Não só mais entre a ralé

Ser corno é pra quem pode

Não é para quem quiser,

Vale o dito corriqueiro:

Para ser corno, primeiro

É preciso ter mulher.

Aqui eu mostro com fé

Para que ninguém esqueça

Se você for algum desses

Assuma e não desmereça

Corno abano vai chegando

Encontra a mulher transando

E só balança a cabeça.

Cresça você e apareça

Pra não topar empecilho

O Corno Banana crer

Que a mulher não sai do trilho

Mas se ver abandonado

Também sobrecarregado

Com uma penca de filho.

Corno Xuxa não tem brilho

E vive de revestréis

Por causa dos seus baixinhos

Suporta qualquer revés

Da mulher vira vassalo

E ainda tem o Corno Galo

Que tem chifre ate nos pés.

Corno Abelha vive aos méis

E faz cera toda hora

O Corno Cebola encontra

A mulher com outro e chora

Corno Medroso é fingido

Fica esperando escondido

Que o Ricardão vá embora.

Corno Preguiça demora

E chega sempre atrasado

Dizendo, um dia ainda

Pego esse cabra safado!

E o Corno Cururu

Ver a mulher no sururu

Fica logo todo inchado.

Baixinho, liso e quadrado

Esse é o Corno Azulejo

O Corno Cuscuz declara:

Abafo tudo que vejo.

Quem na mulher é grudado

Pra evitar ser chifrado

É o Corno Percevejo.

Como Rato come o queijo

E nunca fica indigesto

Contrario do Corno Porco

Pois esse so come o resto

Corno Convencido canta:

Minha mulher é uma santa,

Em casa, só eu não presto.

Também o Corno Modesto

Que não quer ser informado

E ainda Corno Galão

Que gosta de ser chifrado

O Corno Elétrico e feliz

Quando é avisado diz:

Pode deixar, to ligado!

Corno Brasa é esquentado

E arisco como pimenta

Corno Frio leva chifre

Mas com isso não esquenta

Corno loiô vai e volta

Corno Dragão de revolta

Solta fogo pela venta.

Corno Pipoca arrebenta

Porém só chega a pular

Corno Político promete:

«Vou esse cara matar»

Corno Morcego acontece

E em casa só aparece

À noite, para chupar.

Corno Maxixe a inchar

Tem chifre até na barriga

Corno Jaiminho não age

Para evitar a fadiga

E o Corno Bom Vizinho

Descobre e chora sozinho

Porque não gosta de briga.

Corno Amigo não se intriga

Corno Enxada não tem cabo

Corno Vingador descobre

E pra vingar «dá o rabo»

Quem sabe é Corno Conciso,

Escorregadio e liso

Esse é o Corno Quiabo.

Corno Manso e Corno Brabo

Isso é bastante comum

Corno Brahma é o que pensa

Que é o número um

Levar chifre de donzelo

E ficar todo amarelo

É o Corno Jerimum.

O Corno Fórmula Um

Descobre e sai na carreira

Tem o Corno Terremoto

Que dá uma tremedeira

Quando encontra sua amada

Sendo por outro abraçada

Depois vem a choradeira.

Existe o Corno Frieira

Que dela não larga o pé

Corno Jibóia só dorme

Entre as pernas da mulher

E tem o Corno Guarida

Que hospeda e ainda convida

O Ricardão pro café.

Diz o Corno São Tomé:

«Eu só acredito vendo.»

E o Corno Atleta, que quando

Leva chifre sai correndo

O Corno Burro, fingindo,

Vê a mulher lhe traindo

E exclama: «Não entendo!»

Corno Fofoqueiro, vendo,

Faz logo a propagação

O Corno Fraterno empresta

A mulher para o irmão

Corno Atrevido confessa

Que se mete na conversa

Da mulher com o Ricardão.

Também o Corno Inflação,

Todo dia o chifre aumenta

Corno Educado ver tudo

E ainda os cumprimenta

Corno Pobre é conformado,

Tendo a mulher do seu lado

Com bem pouco se contenta.

O Corno Pedra Noventa

É o ultimo a saber

O Corno Ateu, mesmo vendo,

Não crê naquilo que ver

Ainda tem o Corno Insano

Que entra ano e sai ano

Mas não consegue entender.

O Corno Brabo ao saber

Quer logo ser cangaceiro

Tem o Corno Brincalhão

Que é chifrado o ano inteiro

E vai com satisfação

Imitar o Ricardao

No carnaval brasileiro.

O Corno Manso é ordeiro

Não gosta de confusão

Corno Camarada empresta

Dinheiro pro Ricardão

Corno Bateria, vendo

Sai faiscando e dizendo:

Vou tomar uma solução!

Tem Corno de Sapatão

Tem Corno ate de Veado

Corno Caninha é aquele

Que só vive embriagado

Quem tá sempre a procurar

O outro em todo lugar

É o Corno Desconfiado.

Tem o Corno Descarado

Que vive no cabaré

Mais o Corno Submisso

Que faz tudo que ela quer

Corno Teimoso e dobrado

Pois finda sendo chifrado

Da amante e da mulher.

Corno O que é O que é

Como foi que aconteceu?

Corno Granja produziu

Mas foi outro quem comeu

E até Corno Finado,

Descobre que foi chifrado

Depois que a mulher morreu.

Corno Churrasco meteu

A mão no fogo por ela

Corno Paciente acata

E espera a decisão dela

Que vai com outros transando

E o bobo acreditando

Que ela ainda e donzela.

Existe o Corno Esparrela

Que acha que está perdido

Nunca mais se recupera

Por ela ter lhe traído

E existe o Corno Casal

Que não se sabe, afinal,

Quem é mulher ou marido.

Nosso mundo esta perdido

Devido essa decisão

Homem casando com homem

Em registrada união

O certo é que, afinal,

Se não existe casal

Não pode haver tradição.

Existe é aberração

Nessa lei elaborada,

Seja homem com outro homem,

Mulher com mulher casada,

Mas o que vale é viver

E a mim compete escrever,

Deixar tudo registrada.

Portanto, meu camarada,

Com este meu proceder

Fiz questão de editar

O cordel pra você ler

Para a historia terminar

Vale a pena perguntar:

O corno, ser ou não ser?

Zé Lacerda
Enviado por Zé Lacerda em 11/02/2012
Reeditado em 02/08/2014
Código do texto: T3493918
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