PAEZINHO BAIO - O LAMPIÃO DO AGRESTE
Trecho do Cordel:
Paezinho Baio era outro
Sujeito cabra da peste
Da região de Garanhuns
A Suissa do Nordeste
Por ser ágil e prevenido
Recebeu o apelido
O Lampião do Agreste.
Dos Estados do Nordeste
Pernambuco é o campeão
Paezinho Baio é mais um
Dessa imensa região
Viveu ali vinte anos
Causando perdas e danos
E escapando da prisão.
Sobreviveu no sertão
Com muitos bandos formados
Mas os bandos que formava
Eram sempre dizimados
Pois a polícia os matava
Porém ele se esquivava
De qualquer cerco formado.
Foi um dia baleado
E preso por estar ferido
Tempos depois foi liberto
Se dizendo arrependido
Porém foi ele sair
Começou logo a seguir
Regimentando bandido.
Era muito prevenido
Nos lugares onde agia
Pois só atuava à noite
De manhã se escondia
E também se disfarçava
Que até com quem ele andava
Às vezes se confundia,
A polícia o perseguia
Mas a procura era em vão
Pois ele bem conhecia
O povo da região
Muitos deles seus parentes
Então disfarçadamente
Lhe garantiam proteção.
A maior perseguição
Era sobre os moradores
Que não sabiam de nada
Por isso sofriam horrores
Dos coronéis e coiteiros
Às vezes dos bandoleiros
E dos seus perseguidores.
O povo dos arredores
Viviam apavorados
Se do lado dos bandidos
Eram sempre incomodados
Do outro lado os displantes
Das visitas das volantes
Em dias inesperados.
Um oficial graduado
Reforçou um batalhão
E entrou em sua caça
Nas caatingas do sertão
Mas não teve resultado
Pois Paezinho encurralado
Sempre teve proteção.
Piorou a situação
Com o batalhão reforçado
De unir-se a Lampião
Paezinho é incentivado
Por Zé Leite, um companheiro
Mas um amigo coiteiro
Traiu-lhe o plano traçado.
Depois de ter denunciado
O tal amigo falsário
Preparou uma arapuca
Pra pegar os dois «canários»
E numa curva do caminho
Prende Zé Leite e Paezinho
Com o sargento Belizário.
José Pinto, o salafrário
Após prender o bandido
Comemorou com a polícia
Pelo fato conseguido
Esquecendo de vigiar
Quando foi verificar
Os dois haviam fugido.
Por prender outros bandidos
Teve o grupo reforçado
Outros cangaceiros fortes
Foram por ele barrados
Pela sua atuação
Conhecedor do sertão
Foi na volante agregado.
Nunca foi remunerado
Às vezes até pagava
Porque queria ver livre
O lugar onde morava
Se fingia de coiteiro
Atraía cangaceiro
Depois o aprisionava.
Paezinho Baio atuava
Agora em outra região
No bando oito elementos
Sob sua direção
Caminhavam sem parar
Na intenção de encontrar
O bando de Lampião.
José Pinto do Brejão
Assumiu em Águas Belas
O comando da volante
Se embrenhou nas favelas
Poucos dias se passaram
Com Paezinho se encontraram
E recomeça as querelas.
Na região de Águas Belas
Começou o tiroteio
Soldados e cangaceiros
Caiam mortos no meio
Daquele fogo cruzado
Com baixas de todo lado
O estampido era feio.
Logo outro grupo veio
Ajudar aos policiais
Com essa força os cangaceiros
Já não resistiram mais
Baio e Zé Leite fugiram
Sete bandidos cairam
Mortos pelos matagais.
As forças policiais
Foram cercando caminho
O cangaço fraquejando
Sumindo devagarinho
Pouco a pouco se desfez
Até que chegou a vez
De José Leite e Paezinho.
Versos escritos por Virgulino
Ferreira da Silva, o Lampião
Transcrito com a mesma grafia
usada por ele
Leitores sendo possível
Leiam com toda atenção
Este pequeno fascículo
Que vos dá explicação
Quem foi, quem é Virgulino
Pela alcunha Lampião.
Fui nascido em Pajehú
Por Lampião apelidado
Município Vila Bela
No lugar denominado
Riacho de São Domingos
De Pernambuco o Estado.
Gado bravo para ele
Não estando mal montado
Sendo em cavalo bom
Julgava o bicho amarrado
Ou vinha pra o curral sadio
Ou com um quarto quebrado.
Porém já sabem leitores
Do mais antigo ditado
Que não se julgue infeliz
O que vive em bom estado
Que vem a naufragação
E acaba em mal resultado.
Se reuniram os tres irmãos
Cada qual mais animado
Disse eu ao pai já velho
Bote a questão pra meu lado
E deixe estar que meu rifle
É um bom advogado.
Eu bem que disse ao meu pai
Desta vez acreditei
Que advogado bom é rifle
Que com ele deportei
Todos nossos inimigos
Agora sim, descansei.
Seus nomes tão anotados
Suas casas já queimei
Não poupei nem mesmo o gado
Nesta luta me empenhei
Para a qual fui empurrado.
Estou bem certo do fim
Que ele bom não pode ser
Mato João, Pedro ou Martim
E onde vou comparecer?
Já fiz tudo que queria
Que me impoorta de morrer?
De um galego descendente de Holandesa com
Português e uma bisneta de Índia Panati, nas-
ceu José Medeiros de Lacerda, mais um des-
cendente das sete irmãs da Cacimba da Velha.
Aos 8 anos, já escrevia estórias do seu imagi-
nário, como O Aventureiro, descrevendo a saga
de um garoto criado entre as matas da Várzea
Comprida na Fazenda Passagem do Meio, de
seus avós maternos. Com 12 anos, extremamen-
te amante dos estudos, viu seu sonho desmoro-
nar-se. Só homem já feito conseguiu voltar às
salas de aula, de onde nunca mais saiu. Primeiro
como aluno, depois professor. O sangue de Tro-
peiro da Borborema herdado do pai, o fez percor-
rer o Brasil, de Roraima ao Paraná, carregando
seus sonhos, compondo seus poemas, idealizan-
do seus cordéis. No teatro foi ator, dançarino, co-
reógrafo, autor, na poesia um aprendiz, do Cordel
é professor. Em Santa Luzia, constituiu família, em
Patos concluiu seu curso de Letras na atual FIP.
Hoje se realiza vendo seus cordéis lidos, em todos
os Estados brasileiros. E mais feliz fica, vendo várias
escolas pelo Brasil a fora vivenciando sua poesia em
sala de aula. Seus cordéis têm cunho educativo, in-
formativo, histórico, nunca usados como desabafos ín-
timos, válvulas de escape diante das pressões existen-
ciais. Hoje com mais 300 folhetos escritos, faz da poe-
sia sua terapia ocupacional. Seus netos, e sua primeira
bisnetinha lhes proporcionam tudo que ainda lhe resta
para se emocionar, procurando dar-lhes o que ele não
teve direito em sua infância... Seus pais, de saudosa
memória, foram apenas o começo de sua história!!!...
Série Cangaceiros - Vol. XLI