Eu não largo meu torrão.
Terra rachada e morta
Nenhuma nuvem no céu
(Pensei: vou fazer cordel)
Falar da seca que corta,
Do sertanejo na porta
Olhando pr'aquele chão
Sem ter outra opção
Pensa em algo que o console:
Por mais que a seca assole
Eu não largo meu torrão.
Na terra que tem apreço
Ele pensa na vitória
Dá a mão à palmatória
Sim, eu pago qualquer preço
Se Deus vê que eu mereço
Ter a minha plantação
Se nunca faltar o pão
Para mim e minha prole
Por mais que a seca assole
Eu não largo meu torrão.
Vou escolher a semente
E encher minha matraca
Vou espantar maritaca
(pra rocinha lá da frente)
Debaixo desse sol quente
Vou plantar o meu feijão
E pedir chuva à "Pedrão"
Nem que seja só um gole
Por mais que a seca assole
Eu não largo meu torrão.
Vai ser duro meu trabalho
Vou ter que fazer aceiro
Pra proteger feijoeiro
Vou fazer um espantalho
E pendurar bem no galho
De umbú lá do portão
Pra arar, o alazão
Pois pra isso não é mole
Por mais que a seca assole
Eu não largo meu torrão.
E se a colheita for boa
Vai ser grande a festança
Todos vão encher a pança
De cuscuz, pamonha e broa
Quero passar dia à toa
À noite festa, e baião
Quero dizer com razão:
-- Sonfoneiro, puxa o fole!
Por mais que a seca assole
Eu não largo meu torrão.