Eu não largo meu torrão.

Terra rachada e morta

Nenhuma nuvem no céu

(Pensei: vou fazer cordel)

Falar da seca que corta,

Do sertanejo na porta

Olhando pr'aquele chão

Sem ter outra opção

Pensa em algo que o console:

Por mais que a seca assole

Eu não largo meu torrão.

Na terra que tem apreço

Ele pensa na vitória

Dá a mão à palmatória

Sim, eu pago qualquer preço

Se Deus vê que eu mereço

Ter a minha plantação

Se nunca faltar o pão

Para mim e minha prole

Por mais que a seca assole

Eu não largo meu torrão.

Vou escolher a semente

E encher minha matraca

Vou espantar maritaca

(pra rocinha lá da frente)

Debaixo desse sol quente

Vou plantar o meu feijão

E pedir chuva à "Pedrão"

Nem que seja só um gole

Por mais que a seca assole

Eu não largo meu torrão.

Vai ser duro meu trabalho

Vou ter que fazer aceiro

Pra proteger feijoeiro

Vou fazer um espantalho

E pendurar bem no galho

De umbú lá do portão

Pra arar, o alazão

Pois pra isso não é mole

Por mais que a seca assole

Eu não largo meu torrão.

E se a colheita for boa

Vai ser grande a festança

Todos vão encher a pança

De cuscuz, pamonha e broa

Quero passar dia à toa

À noite festa, e baião

Quero dizer com razão:

-- Sonfoneiro, puxa o fole!

Por mais que a seca assole

Eu não largo meu torrão.

Edilson Biol
Enviado por Edilson Biol em 08/02/2012
Código do texto: T3487662
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