HAIDÊ NEGRA AFRICANA
Vou escrever um cordel
Onde fui inspirado
Numa música que ouvi
Que me deixou intrigado
Sobre a vida de Haidê
Uma negra do passado
Haidê era africana
Tinha magia no cantar,
Os olhos esverdeados,
Sabia também cozinhar!
O senhorzinho se encantou
Com Haidê quis se casar.
Senhorzinho cortejava
Dando a ela atenção
E ela sempre fugindo
Pois sabia a intenção
Que o senhor tinha por ela
Por ser o seu patrão.
Mas o senhorzinho tentava
De forma nenhuma desistia
Fazia sempre investida
Sempre com muita alegria
E Haidê pensando sempre
Sair da sua companhia.
Até que seria para Haidê
Senhorzinho bom partido
Mas no tempo do cativeiro
Negro vivia escondido
Haidê seria ao patrão
Apenas um bom partido.
A negra Haidê não queria
Viver, mas na senzala
Articulou um bom plano
Para sair da escala
Do patrão que a seguia
Pior que uma mala.
Numa noite alguns negros
Da senzala fugiram
Entre eles a negra Haidê
Foi um dos que conseguiram
Fugiram para o quilombo
Onde a outros se uniram
Não vendo a negra Haidê
A outra negra ele chamou
Negra Izabel cadê?
Logo a negra retrucou
Me diga patrãozinho
O que o sinhô procurou
Logo entrou pela porta
Um feitor da fazenda
Dizendo: patrão esta noite
Fugiu aqui da fazenda
Alguns negros do senhor
Que trabalha na fazenda
O patrão ouviu aquilo
E logo ele imaginou
Que Haidê havia fugido
Nisso o patrão acertou
Mas onde se encontrava
O patrão nem desconfiou
Haidê fugiu para a longe
Foi parar em Camugerê
Um quilombo famoso
Que no tempo havia de ser
Pois estava em liberdade
A linda negra Haidê.
Haidê viveu sorrindo
Falava com muito valor
Liberdade não tem preço
Ela sabe que se libertou
E no quilombo de Camugerê
O amor Haidê encontrou.
Na fazenda senhorzinho
Amargurava sua perda
Vivia triste e sofrendo
Pensando na beleza
Que ele achava que era
Criação da natureza
Um do seu capitão
Capturou um negrinho
Disse logo ao seu patrão:
Veja só meu senhorzinho
Peguei esse negro safado
Que já foi do senhorzinho.
O patrão andava triste
Com o sumiço de Haidê
E não deu muita atenção
Para que o negro ia dizer
O patrão disse: -de onde veio?
O negro disse: - de Camugerê!
-É grande o quilombo
Que você vem me dizer
Pois outras fazendas conta
Histórias de Camugerê
Mas eu quero saber
Conhece-se a negra Haidê
Sem olhar o senhorzinho
O negro foi dizendo assim
Quem não conhece Haidê
Merece é ter logo fim
Negra valente e bondosa
Vai casar-se com o líder Bonfim
Todos fazendeiros sabiam
Que existia Camugerê
Mas ninguém sabia onde
Os negros iam se esconder
Nenhum negro capturado
Se atreveu em dizer.
Mas o patrão foi esperto
E para o negro prometeu
Liberdade e dinheiro
O negro logo se comoveu
Que liberdade e dinheiro
Iria viver no apogeu
O patrão mostrou logo
A quantia a ser recebida
O patrão viu o interesse
Continuou as invertidas
O negro contou tudo
E saiu em despedida.
O patrão em seguida
Mandou atrás um feitor
Dar cabo daquele negro
Que o dinheiro levou
Coitado do cabuete
Que no patrão acreditou
Patrão já sabia onde era
O quilombo Camugerê
Armou vários volantes
Para procurar por Haidê
Pensando ele ser fácil
Vencer toda Came ere.
Senhorzinho disse então
O quilombo vou acabar
Se Haidê não casar comigo
Com ninguém ela vai se casar
Mato Haidê e Bonfim
Da dor vou me libertar
Chegando a Came ere
Senhorzinho se surpreendeu
O negro mostrou uma arma
Que no quilombo desenvolveu
Os negros venceram fácil
Por lá senhorzinho morreu
No outro lado da cidade
A notícia o barão recebeu
Ao saber da morte do filho
O barão se enfureceu
E disse: - Camugerê hoje sai
Desse caminho que é meu
Não foi difícil o barão
Conseguir autorização
Para acabar Camugerê
Que crescia toda sua nação
Amedrontando fazendeiros
De toda aquela região
Em frente ao pelotão
Que o barão conseguiu
Ele dirigia-se a todos
Que ao barão se uniu
-Vamos destruir Camugerê
Darei fim aquele covil
No pelotão havia ali...
Fazendeiros e capataz
Mercenários que por dinheiro
Mata até satanás
Dentre todos um branco
Que era ainda rapaz.
Esse jovem era contra
Maus-tratos e escravidão
Era contra os fazendeiros
Que não tinham gratidão
Dos trabalhos dos negros
E toda sua dedicação.
O rapaz ouvindo aquilo
Saiu sem ninguém perceber
Cavalgou por uma noite
Chegou a Camugerê
Para falar com Bonfim
O que havia de acontecer
Bonfim mandou logo chamar
Todos os capoeiras
Para preparar a cilada
Do tipo bem brasileira
Para dar cabo dos homens
Que vinham fazer asneiras
O rapaz alertou Bonfim
E falou com exatidão
-Bonfim meu grande amigo
Preste muita atenção
Os homens que vem vindo
Vem destruir sua nação
Por isso te peço meu amigo
Para com seu povo partir
Pois o famoso coronel Zé
Nunca que vai desistir
Pois o homem que morreu
Era o seu filho Genir
Genir herdou as terras
Do famoso coronel Zé
Que estava cansado
De lhe dar com o café
Indo morar na cidade
Com a filha e sua mulher
Mas Zé tem conhecidos
Que tem muita influência,
Agora ele vem com tudo
Para acabar a resistência
Por isso junte seu povo
Com a sua competência
Peço que você saia logo
E fuja lá pra Bahia
Por lá tem muita terra
Faça por lá moradia
O seu povo merece
Viver em grande harmonia
Quando o coronel Zé
Com a tropa ali chegou
Camugerê estava vazia
Ninguém ele encontrou
Pois Bonfim e seu povo
O conselho escutou
Bonfim e seu povo
Fugiram pra Bahia
Construíram o quilombo
Repleto de harmonia
Haidê junto com Bonfim
Trouxeram paz e alegria
Se duvidar o que leu
Vá então pesquisar
Mas, pesquise direito
Pois sou bom de imaginar
Os descendentes de Haidê
Na liberdade vai encontrar
Liberdade hoje é
Um bairro de salvador
Com maior concentração
E raças do criador
Negritude maravilhada
Abençoada pelo senhor