DIVINA DO ESPÍRITO SANTO

As margens do Parnaíba
Pelas bandas do Piauí
Numa tarde ensolarada
Em meados de abril
Nasceu uma linda menina
A natureza sucumbiu

Logo após seu nascimento
A morte triunfou
Levou sua pobre mãe
A coitada só ficou
Pra cumprir sozinha a sina
Pois o pai a abandonou

Tudo que era perfeito
Deu-lhe a natureza em troca
Lindos olhos azuis
Pele maravilhosa
Cabelos encaracolados
Macios como a rosa

Aquela pobre menina
Por sorte foi encontrada
Levada e adotada
Por uma família abastada
Mas pouco tempo depois
Outra tristeza a aguardava

Foi a mãe adotiva
Que escolheu o seu nome
Nome por sinal esquisito
Divina do Espírito Santo
Tudo bem por Divino
O resto meio estranho

A tal mãe adotiva
Filho não podia ter
Por isso que a adotou
Logo após veio, a saber
Que grávida ficara
Por obra não sei do quê

Era mulher muito malvada
Por isso que falo assim
Soberba ao extremo
Era conhecida por fim
Odiava a pobreza
Dito por todos e por mim

Sabendo da notícia
Logo a adotada desprezou
Maltratava a coitada
Num colégio a internou
Vez por outra a visitava
Sem por ela ter amor

Se pensam que no colégio
A donzela estudava
Podem todos ficar certos
Ela apenas trabalhava
Limpava os aposentos
Lavava roupa e passava

Da malvada nasceu um menino
Com mesma personalidade
Mal educado e mesquinho
Da mãe herdara a maldade
Na cidade sem amigos
Cultivava inimizades


Itelvina era o nome
Daquela malvada mulher
Ficando sem empregada
Sem quem fizesse um café
Por causa da mesquinhez
Todas elas deram no pé

Resolveu trazer Divina
Pra servi-lhe de empregada
Pois já pensava a tempos
Escravidão pra coitada
Agora estava no tempo
Desta atitude macabra
Trouxe a donzela pra casa
Dando-lhe ordens falou
- trate de tudo fazer
Pra obter o favor
De comer e beber
Além disto, nada lhe dou

A donzela calada ficou
Nada podia fazer
Somente pedir a Deus
Mais ninguém pra recorrer
Trabalhava noite e dia
Pra puder sobreviver

O tempo foi passando
Linda moça ficou
O filho da malvada
Os olhos nela botou
Começou a assediá-la
Sem mostrar nenhum pudor

Divina num canto ficava
Retraída com medo
Recebendo investidas
Daquele maldoso mancebo
Contou tudo a Itelvina
Mas nada por ela foi feito

Divina só contava
Apenas com uma amiga
Dona genoveva governanta
Que de todo passado sabia
Dava a Divina esperança
Com sua palavra bendita

A cidade estava em festa
Da Santa da Divina Graça era o dia
Fiéis das cidades vizinhas
Aos festejos comparecia
Ilha Grande, Luis Correia, Araioses
A cidade de gente enchia

Naquele dia de festa
Todos ficavam agitados
Itelvina e o filho Horácio
Recebiam os convidados
Divina ficava na cozinha
O trabalho era dobrado


Naquele dia a tardinha
Teve total liberdade
Itelvina com o filho
Saíram para a cidade
Deixando Divina em paz
Com toda a criadagem

Vestiu seu melhor vestido
O que ganhou de genoveva
Nos cabelos, pões um laço
A todas causando inveja
Era de todas a mais simples
No entanto era a mais bela

Visitou  a igreja
Pediu a Deus proteção
Chorou e implorou felicidade
Pra triste vida solução
Tão absorvida estava
Que lhe faltou atenção

Instantes depois percebeu
Um lindo rapaz ao seu lado
Era o mancebo Plínio Salgado
Ao lado de Divina sentado
Rapaz honesto e decente
Pela redondeza admirado

Naquele mágico momento
Divina avermelhou
Plínio Salgado tremendo
Olhando pra ela falou:
- boa tarde senhorita
A memória me falhou
- de onde vem tal beleza?
De uma cidade vizinha?
Ou deuses te trouxeram
Pra nesta igreja ser rainha?
Ou o céu abriu as portas
Liberando uma santinha?

Com voz estremecida
Divina respondeu:
Nenhum uma e nem outra
Você não percebeu
Que sou uma infeliz
Por tudo que sucedeu

O rapaz admirado
Pediu melhor resposta
Foi ali mesmo na igreja
Que Divina abriu as portas
Do seu coração de menina
Contando a sua estória

Naquele momento divino
O amor no peito brotou
Plínio deu um suspiro
Seu coração quase parou
Encontrara a mulher certa
Faria tudo ao seu favor

- Como vê-la outra vez?
Interrogou como seria
Divina  prometeu-lhe
Estar ali no outro dia
Deu de imediato a resposta
Sem saber como faria

Aquele lindo romance
Mantiveram em segredo
Divina  fazia tudo
Pra encontrar o mancebo
Com o coração quase parando
Repleto de muito medo

Por destino ou por acaso
Não sei ao certo dizer
Plínio teve que ir à farmácia
Um amigo socorrer
Quando de repente ouviu
Uma conversa sem querer

Era o filho de Itelvina
Com amigos a prosar
Falava sobre Divina
Estava a ela difamar
Que fizera isso e aquilo
Todos estavam a acreditar

Plínio naquela conversa
Com muita raiva entrou
Tinha que dizer algo
Em favor de seu amor
Foi quando neste instante
Seu amor os declarou

Horácio por sua vez
Muita conversa não quis
Investiu contra plínio
Soqueando-lhe o nariz
Plínio defendeu-se
Atacando-o a mais de mil

Horácio em desvantagem
Sua covardia mostrou
Chamou outro comparsa
Pra espancar o agressor
Bateram tanto em plínio
Que enfermo ele ficou

Genoveva que ia passando
Presenciou todo ocorrido
Correu e contou pra Divina
Com muito jeito e siso
Pra não machucar a menina
De modo muito agressivo

Depois deste fato ocorrido
As coisas só pioraram
Divina  coitadinha
Sofreu com isto um bocado
Nada podia fazer
Por plínio seu doce amado

De casa não pode sair
Por todos era vigiada
Contava com genoveva
Mas esta estava assustada
Mesmo assim a convenceu
E por ela foi ajudada

Naquela mesma noite
Divina recolheu-se mais cedo
Trancou a porta do quarto
Como o combinado foi feito
Genoveva ficou vigiando
Pra que tudo saísse direito


Etelvina achou estranho
Perguntou a governanta
O motivo de Divina
Ir tão cedo para cama
Genoveva respondeu
Está lhe doendo a pança

Divina neste momento
A janela já tinha pulado
Dirigiu-se a casa de plínio
Ao encontro do amado
Horácio desconfiado
Saiu atrás bem armado

Esperou Divina entrar na casa
E em inoportuno momento
Flagrou Divina e Plínio
Saiu atirando ao vento
Queria mesmo matar
Resolver tudo a contento

Plínio correu com Divina
Esconderam-se no quarto
Estava bastante escuro
Após entrou o malvado
Mesmo sem nada ver
Foi bala pra todo lado

Um bala atingiu Plínio
Apenas  de raspão
Uma outra se alojou
No lado do coração
Divina tão desesperada
Que pedia por perdão

Honório saiu correndo
Sem nem olhar para trás
Chegando em casa nervoso
Itelvina perguntou ao rapaz:
- o que aconteceu meu menino?
Teu rosto é exangue total.

Etelvina ficou nervosa
Quando soube do ocorrido
Chamou por genoveva
Não atendida deu um grito
- genovevaaaaaaaaaa
Ela atendeu ao estampido

Indagou a governanta
Sobre tudo que sabia
Falou alto falou forte
Tentou deixá-la sem saída
Mantendo-se calada
A nada respondia

Amparado por Divina
Plínio lutava pela vida
Sentindo fortes dores
Enquanto seu sangue fluía
Divina procurou ajuda
Mais ninguém aparecia

Depois de alguns minutos
Um homem apareceu
Havia escutado os estampidos
Praquela casa correu
Curioso por saber
O que ali ocorreu

Encontrou Divina gritando
Plinio baleado em seus braços
Socorreu-os imediatamente
Colocou-os em seu carro
Procurou um médico ligeiro
Colocou-o a seus cuidados

Etelvina astuta como o diabo
Tratou de esconder o bandido
Mandou naquele mesmo dia
Carta pra seu marido
Pedindo que escondesse lá
O malfeitor fugitivo

Sobre o estado de Plínio
As respostas vão saber
Depois de ser examinado
Havia pouco a fazer
Apenas alguns curativos
E muito repouso a ter

O tiro que havia entrado
Ao lado do coração
Atravessou o seu corpo
Saiu sem complicação
As orações de Divina
Teriam sido a salvação?

Etelvina muito zangada
Armada até os dentes
Saiu a procura de Divina
Que mesmo descontente
Teve que voltar pra casa
E enfrentar toda gente
Pro convento foi mandada
Pra nada puder fazer
Sem testemunha o caso
Arquivado iria ser
Horácio não condenado
Voltar ao bom viver

- Trabalhos redobrados
Disse a malvada Etelvina
Pra sua aliada uma freira
Destas recalcadas e sovinas
Embora naquele meio
Houvesse algumas santinhas

Divina não mais sorria
Vivia pelos cantos
Quando na capela
Ao seu bom Deus implorando
Uma única chance na vida
Para enxugar o seu pranto

Enquanto isto na cidade
Devido os ferimentos
Plínio estava acamado
Esperando só o momento
De poder procurar Horácio
Resolver o contra tempo

Deus ouviu o lamento de Divina
Pela boa filha que era
Mandou Serafina uma freira
De outra clientela
Pra estar no convento
Na hora de uma reza
 
No seu canto a rezar
Estava ali Serafina
Algo chamou sua atenção
Nos olhos de Divina
E dela se aproximou
Pra cumprir a sua sina

- Bom dia senhorita!
Sem esperar ela disse:
Por qual motivo moça bela
Teus olhos são tão triste
Divina respondeu;
- Pra mim mais nada existe!

Porque diz isso menina
Tem-se toda formosura
Parece-me saudável
Ver, caminha e escuta
Tantos queriam tua vida
No entanto a esconjura

- Vou contar-lhe tudo
Disse Divina tristonha
Relatou todo ocorrido
Praquela freira estranha
Depois de tudo ouvir
Compreendeu todo drama

Disse estar disposta
A pobre Divina ajudar
Mas como iria fazer?
Teria que o caso estudar
Saber nos mínimos detalhes
Pra todo drama acabar

Achando a promessa sincera
Resolveu tudo contar
Sem esquecer pormenores
Pra em tudo puder ajudar
Falou sobre sua condição
De grávida estar

Falou de Genoveva a amiga
Que lhe prometeu dar a mão
Caso um dia precisasse
De sua colaboração
Pra arruinar a malvada
e o seu filho sem coração

No dia seguinte aquele
Serafina procurou
Plínio e Genoveva
E logo os encontrou
Contou o que se passara
E um plano arquitetou

Juntos iriam salvar
Divina da escravidão
Teriam que tirar
No convento pelo portão
Não podia Divina ariscar
A sua gestação

Sobre a gravidez de Divina
Plínio  de nada sabia
Por alguns meses acamado
Devido as balas malditas
Sem notícias da amada
Coitado muito sofria
Depois da ferida sarada
A procura da amada saiu
Por toda cidade e vilas
Triste como jamais ninguém viu
Por não encontrar sua amada
Perguntava: E se ela fugiu?

Genoveva por sua vez
Por Etelvina despedida
Não planejava vingança
Praquela alma maldita
Só queria  mesmo justiça
Pra ela a pena devida

A melhor forma de agir
Os três tentavam encontrar
Enquanto lá no convento
A madre a arquitetar
Junto com Etelvina
Divina pra longe mandar

Como deveria ser feito
Já  tudo combinado
Levariam Divina
Para um convento nos matos
Depois que ela parisse
Tirar-lhe-iam o filho dos braços

Até mãe adotiva
Tinham pra criança arranjado
Iriam entrega-la a seguir
Pra um casal de outro estado
Um plano pra elas perfeito
Bastava apenas consumá-lo

Serafina pensou um pouco
Procurando solução
De repente achou jeito
Praquela situação
Infiltra-se no convento
Seria a salvação

Pediu a uma amiga
Para o convento visitar
Iria com boas idéias
Com intuito de ensinar
Se fosse aprovada
Poderia se infiltrar

Acharam boa a idéia
Daquela jovem freira
Seria muito bom
As alunas fariam carreira
Depois podiam pagar
A tacada era certeira

Já dentro do convento
Nazaré a amiga se entrosou
Para a madre malvada
Cúmplice se mostrou
Só assim conseguiu
O que sempre almejou

Conquistar a confiança
Da madre superiora
Depois saber dos planos
Daquela mulher impostora
Impedir que se fizesse
Injustiça a uma pessoa

Nazaré descobriu tudo
Repassou a Serafina
Todos os planos da madre
E da má Etelvina
Com plano desvendado
Ajudariam a Divina

Nazaré ficaria atenta
Pra  quando seria o dia
De levar Divina embora
Sem demora avisaria
Tentariam impedir
Aquela selvageria

Nazaré atenta a tudo
Não via chegar a hora
De Divina dar a luz
Uma criança maravilhosa
Trazer pra todos felicidade
Ter vida satisfatória

Poucos tempo depois
O fato então ocorreu
Sentindo dores do parto
Uma menininha nasceu
Nazaré procurou Serafina
Contou o que sucedeu

A mulher que comprou a menina
Logo após foi informada
Teria que ir buscar a criança
No meio da madrugada
Levar divina pro convento
Com recomendação da matraca
Plínio ia libertar Divina
Daquela injusta prisão
Quando isto acontecesse
Não haveria punição
Resolveu falar com o Delegado
Daquela jurisdição

Relatou ao delegado
Sobre a prisão da inocente
O delegado abismado
Escutou tudo descontente
Falou sobre a venda da criança
Sobre o tráfico de gente

O delegado do convento
Divina não podia tirar
Etelvina era a tutora
Nela podia mandar
Teria que ter provas
Para poder sentenciar

Resolveu participar
Daquela armação
Do carro presenciaria
Como uma confissão
Todas as artimanhas
Daquele mau coração

Chegou a esperada noite
De Divina se libertar
Daquela injusta prisão
Seu sofrimento acabar
Os quatro escondidos estavam
Na estrada a vigiar

O carro que por ali passasse
Por lá teria que voltar
A rua dava pro convento
Ninguém mais morava por lá
Era uma rua sem saída
Teriam que por lá  retornar

Os três agiram depressa
Ao avistar de longe o carro
Colocaram pedras e paus
Bloquearam todo espaço
Sem saber o que se passava
Todos ficaram assustados

O carro que vinha ligeiro
Bruscamente parou
Plínio bem disfarçado
Uma ordem logo passou
Mandou que todos saíssem
Seria ele o condutor

O motorista tentou fugir
Plínio o surpreendeu
Com uma arma em punho
O motorista se rendeu
Pedindo a Plínio clemência
Plínio logo respondeu

- Não se preocupe rapaz
Nada vai te acontecer
Só peço que colabore
Para que tudo normal possa ser
Prometo que em poucas horas
Tudo vai se resolver

Plínio falou com segurança
O motorista acalmou
Juntamente com a tal mulher
Plínio os amarrou
No tronco de uma árvore
Depois o carro acelerou

Nazaré de prontidão
vigiando os dois ficou
Genoveva entrou no carro
Plínio com os dois continuou
A viagem até o convento
Pra libertar o seu amor

Genoveva disfarçada
Com o rosto encoberto
Estava um pouco nervosa
Plínio também por certo
Teriam que manter a calma
Pra que tudo desse certo

Ao chegar no convento
Ficaram a aguardar
não podiam falar muito
Pra ninguém desconfiar
Esperaram a madre malvada
Pra poder se apresentar

O grande portão abriu
Expectativa aumentou
Apareceram dois vulto
Um do carro se aproximou
Era a madre superiora
Para os dois se apresentou

Pro outro vulto acenou
Logo após se apresentar
Disse severamente: Venha!
Não há mais nada a esperar
Entre logo no carro
Prossiga sem falar

Aquele segundo vulto
Era a pobre Divina
Nos braços aconchegantes
Carregava sua menina
Plano quase consumado
Pra se cumprir aquela sina

Divina no carro entrou
Sem saber o que ocorria
Só depois que o carro saiu
Entendeu o que acontecia
Contaram-lhe toda trama
Nos lábios sorriso fluía

Para contento de todos
O Plano foi alcançado
O motorista e a mulher
Foram então libertados
Mas somente da árvore
Onde estavam amarrados

O delegado chamou a escolta
Pra prisão mandou levar
O motorista e a mulher
Pra depoimento prestar
Voltou então ao convento
Para a madre interrogar

Interrogou a malvada
Que nada pode negar
O delegado foi testemunha
Por sinal testemunha ocular
Levou-a pra traz das grades
Sem poder argumentar

O motorista foi liberado
Por nenhuma culpa ter
Apenas estava a trabalho
Nada podia saber
A trama era entre as duas
Iam ter que se entender

Depois dos depoimentos
As duas condenadas
A passar um longo tempo
Vivendo a pão e água
Naquela prisão nojenta
Vendo a lua quadrada

Plínio e Divina
Tiveram final feliz
Foram morar na capital
Deste imenso país
Na cidade de Teresina
No coração do Brasil

Genoveva foi também
Não como empregada
Foi como madame
Por divina convidada
Logo com pouco tempo
Já se encontrava casada

Nazaré a boa freira
Escolhida pelo povo
Pra dirigir o convento
Ajudar o seu povo
Livrando-os da escravidão
Que a madre tinha imposto

Aqui termino caro leitor
Espero que tenha gostado
Da estória da moça divina
E do rapaz Plínio salgado
Só é feliz quem faz o bem
Isto já foi mais que comprovado


FIM POR FIM ESCRITO POR MIM...

 
Jorgely Alves Feitosa
Enviado por Jorgely Alves Feitosa em 02/02/2012
Reeditado em 13/10/2018
Código do texto: T3476619
Classificação de conteúdo: seguro
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