O poeta só é bom depois de morto

O Poeta só é bom depois de morto

Jorge Linhaça

No seu último suspiro

Brota a luz, ascende á fama

Sugam dentes de vampiro

O calor de sua chama

Na vida desconhecido

Ignorado, talvez

Morto... gênio incompreendido

Arauto da lucidez

Seja gênio ou mediano

Basta a morte o vir buscar

Pra elevar-se o fulano

ao mais alto patamar

De que vale a honraria

ao poeta falecido

Parece até zombaria

Com o sempre esquecido

Se em vida não lhe acham

Qualidades a louvar

Quando morto lá despacham

mil poemas pelo ar

Brotam prantos e louvores

"vira estrela" o poeta

Na "constelação das dores"

Sua morada é tida certa

Ele em vida, renegado

É lembrado afinal

Poemas viram legado

Nesse instante triunfal

Por três dias afinal

Tem seu nome na berlinda

Mas depois do carnaval

Vem quarta feira de cinzas

Escasseiam as lembranças

Vez por outra um relembrar

Mas poetas são crianças

E voltam logo a brincar

Salvador, 27 de janeiro de 2012