Corda no pescoço

É interessante sentir o efeito

De uma corda no pescoço

Enroscada até o caroço

Faz sobre o seu peito

Que já sem bater perfeito

Deixou de ser um peito moço

E depois que ela estica

Aí não tem mais volta

Só aperta e não solta

A alma sobe, o corpo fica

Balançando feito titica

Com demônios em sua escolta

Tem a marca que fica na pele

Dessas que é difícil esconder

E se assim fez por merecer

Até chora e implora que libere

Quanto mais se debate, fere

Mas o destino é mesmo perecer

A garganta sempre da um nó

E não adianta tentar desatar

Tá mais fácil vaca gorda voar

Do que, pendurado, se sentir só

Vai vendo a vida passar, sem dó

E essa luz, que tarda a chegar!

As fibras apertam ainda mais

E conseguem até fazer um corte

Você aí, já à beira da morte

Não vendo esperança, nem sinais

Lembrando que nunca foi capaz

E nem foi um cara de sorte

Eis que a sombra lhe aparece

Uma mancha e uma foice na mão

Tomou um susto, não é ilusão

Mas encarou, e fez uma prece

Pena que no escuro, a voz emudece

E a sombra tocou seu coração

Com a ponta do polegar

E nele a unha mal feita

Precisamente da mão direita

Se pôs então a massagear

O coração batendo devagar

Estava feita a sua colheita

Um fio de fumaça saiu

Pairou um poco por ali

Pensou se devia partir

E percebeu que sentia frio

Num estalo de luz, sumiu

Nunca mais voltou aqui

O peso frio balançava

Do rosado vivo, virou roxo morto

E ninguém lhe avistou, no porto

Pois há muito, sozinho estava

Escolheu morrer onde trabalhava

Agora jazia completamente absorto

Não fazia falta alguma

Nunca lhe dirigiam a voz

Era gente, como nós

Mas não conhecia nem uma

Seu corpo foi sumindo na bruma

E sua alma, agora está a sós

Walter Gandarella
Enviado por Walter Gandarella em 27/01/2012
Código do texto: T3465271
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