Corda no pescoço
É interessante sentir o efeito
De uma corda no pescoço
Enroscada até o caroço
Faz sobre o seu peito
Que já sem bater perfeito
Deixou de ser um peito moço
E depois que ela estica
Aí não tem mais volta
Só aperta e não solta
A alma sobe, o corpo fica
Balançando feito titica
Com demônios em sua escolta
Tem a marca que fica na pele
Dessas que é difícil esconder
E se assim fez por merecer
Até chora e implora que libere
Quanto mais se debate, fere
Mas o destino é mesmo perecer
A garganta sempre da um nó
E não adianta tentar desatar
Tá mais fácil vaca gorda voar
Do que, pendurado, se sentir só
Vai vendo a vida passar, sem dó
E essa luz, que tarda a chegar!
As fibras apertam ainda mais
E conseguem até fazer um corte
Você aí, já à beira da morte
Não vendo esperança, nem sinais
Lembrando que nunca foi capaz
E nem foi um cara de sorte
Eis que a sombra lhe aparece
Uma mancha e uma foice na mão
Tomou um susto, não é ilusão
Mas encarou, e fez uma prece
Pena que no escuro, a voz emudece
E a sombra tocou seu coração
Com a ponta do polegar
E nele a unha mal feita
Precisamente da mão direita
Se pôs então a massagear
O coração batendo devagar
Estava feita a sua colheita
Um fio de fumaça saiu
Pairou um poco por ali
Pensou se devia partir
E percebeu que sentia frio
Num estalo de luz, sumiu
Nunca mais voltou aqui
O peso frio balançava
Do rosado vivo, virou roxo morto
E ninguém lhe avistou, no porto
Pois há muito, sozinho estava
Escolheu morrer onde trabalhava
Agora jazia completamente absorto
Não fazia falta alguma
Nunca lhe dirigiam a voz
Era gente, como nós
Mas não conhecia nem uma
Seu corpo foi sumindo na bruma
E sua alma, agora está a sós