O BINGO E O GRINGO
Pouco para o meio-dia,
sob a paz dominical,
e o bingo a correr normal
na simples periferia
de pasmaceira total.
Certo marcador do bingo,
depois de o jogo marcar,
sem nenhum ponto acertar,
talvez já por ser um gringo,
quis as pedras afanar.
Não que eu tenha prevenção
contra a gente dos ianques,
mas quem invade com tanques
ama bancar o mandão,
sejam do poder ou ‘punks’.
Do gajo vista a maranha,
alguém lhe nota a trapaça
e bota a boca na praça,
e o gringo só não apanha
por tolerância da massa.
Mesmo assim um exaltado
quis lhe quebrar o focinho,
ao vir que aquele loirinho,
mais que americanalhado,
tinha branco colarinho.
Justo o m a n é que cantava
a brincadeira do jogo,
achou de pôr mão no fogo,
pois da paz do bar cuidava
e exigiu ordem de novo.
– Calma, gente, esse rapaz
pagou bem nossa cartela!
Faz parte da clientela
e, com certeza, é de paz:
no idioma, é que se mela.
Só não fala o português,
mas já manda no planeta
e, se lhe der na veneta,
compra o mais rico burguês,
mais pra pô-lo na gaveta.
O dono do bar sabia
que se batessem no gringo
nunca mais havia bingo
no seu bar-mercearia,
lá nas manhãs de domingo.
Era papel da Embaixada,
vinham queixas do distrito,
pois gringo manda bonito;
querendo, expede cambada
para incursões no infinito.
Vejam no Médio Oriente,
onde americano manda,
quanto mais numa quitanda
de um zé-povinho de gente,
de um bingo numa ciranda.
E o homem diz, xeretando,
fazendo gesto, a valer,
que nem pinto pra tanger:
– Pode as pedras ir levando.
Aqui gringo tem poder.
Fort., 27/01/2012.