A SORTE DE ZÉ ROMÃO
Jorge Linhaça
Zé Romão era desses "cara"
qui creditava em amuletos
era mesmo figurinha rara
e mesmo quebrando a cara
não se dava por satisfeito.
Tnha em casa ferraduras
e muitas figas de guiné,
pé de coelho e benzeduras
com galhos frescos de arruda
e nisso sempre botava fé
Mas um dia todo emocionado
O novo amuleto me mostrô
Um trevo de quatro folhas formado
que ele havia encontrado
- dizendo isso até chorou-
Era tanta a sua alegria
que não quis desanima-lo
e fui tirar sua fotografia
-mó di se alembrá desse dia-
ao pé da istáuta du cavalo
Num sei se obra du destino
ou se erro de conStrução
Mas num é - seu mininu-
que do traseiro do eqüino
saiu um baita pedrão.
E foi batê na cAbeça du Zé
que o cabra ficô desnorteado
e aí num houve mais fé
galho de arruda ou guiné
que espantasse o mau olhado
O Zé ficou tão aperreado
que perdeu a compustura
xingando todo desaforado
o pobre escultor malfadado
que moldou a cavalgadura.
E aqui vou me despedindo
deixando o meu recado
pois se a sorte lhe está sorrindo
entenda bem - seu meninu-
que não é pelo amuleto guardado.
Não há patuá, trevo ou figa
que possa sua sorte mudá
Só a fé verdadeira e amiga
é que afasta qualquer mandinga
o resto é só pra enfeitá.