O POETA E OS MARIMBONDOS
Jorge Linhaça
 
O poeta  no telhado
foi  arranjar a antena
após  um vento danado
que veio cobrar pecados 
e varreu tudo sem pena
 
Tão leve como um jumento
logo as telhas partiu
a antena ele arranjou
mas sua sorte mudou
coisa igual nunca se viu
 
Quando as telhas foi trocar
foi que a coisa deu rombo
não é que ele foi achar
para o cúmulo do azar
um ninho de marimbondos
 
Imaginem pois a cena
o gordo sobre o telhado
e os bichos sem ter pena
( nem adiantava novena)
a pica-lo em todo lado
 
O poeta se defendia
co'aquilo que tinha à mão
lutou pois com valentia
acertando o que via
sem dizer um palavrão
 
Foi aos poucos se afastando
gatinhando sobre as telhas
os marimbondos voando
ainda o foram picando
na sua mão e orelha
 
Consegui se pôr a salvo
descendo pela escada
deixou de ser pois o alvo
( inda bem que não é calvo)
da fúria da bicharada
 
O estrago estava feito
e o telhado descoberto
o poeta insatisfeito
teve então de dar um jeito
de livrar-se dos insetos.
 
Apanhou o inseticida
e lá se foi pro telhado
a escada protegida
e acabou com a vida
daquele enxame danado
 
E não me venha o IBAMA
querer dar voz de prisão
a picada é como chama
e bem depressa inflama
não tinha outra solução
 
Voltou ele ao telhado
para o conserto final
desceu de lá todo inchado
e depois de sossegado
foi parar no hospital
 
Tomou duas injeções
(na buzanfa e no braço)
teve umas implicações
( vomitou aos borbotões)
mas voltou ao seu regaço.
 
Esta história é verdadeira
podem até duvidar
mas foi nesta terça-feira
de carnaval, terça cheia
que ela teve lugar.
 
Agora fica engraçado
na forma deste cordel
mas na hora foi danado
eu me vi bem enrascado
quase fui para o pinéu.
 
Teve gente que ajudou
dando conselhos e tal
no google foi, pesquisou
remédios me indicou
Viva o mundo virtual.
 
 
Arandú. 26 de fevereiro de 2009