OSTENTAÇÃO
Certo dia, uma gralha
Que se achava inteligente
Passou e viu uns pavões,
Bonitos, e, de repente,
Pensou arranjar um meio
De se tornar diferente!
Ela ficou encantada
Com tão singular beleza:
As aves com lindas penas,
Encantos da natureza!
Pensou: - Se eu ficar igual,
Terei porte de nobreza!
Foi falar com os pavões
E a cada um pedia
Um pouco de suas penas
Para ver se conseguia
Ficar igualzinha a eles,
Era só o que queria!
Os pavões, muito educados,
Não quiseram confusão,
Emprestaram suas penas
Para a gralha que, então,
Vestiu-as e ficou tão bela,
Quase morreu de emoção!
Com os seus novos amigos,
Ela se pôs a passear,
Das outras de sua espécie
Começou a desdenhar,
Desprezo e indiferença
Era o que tinha para dar!
E o tempo foi passando,
E ela toda empolgada,
Pensando ser diferente,
Orgulhosa e deslumbrada,
Esqueceu a sua origem,
Não se lembrava de nada!
Mas os pavões descobriram
Da gralha, a pretensão,
E lhe pediram, de volta,
Todas as penas, então
A gralha ficou raivosa
E disse-lhes: - Entrego não!
- Sendo assim, ó dona gralha,
Nós vamos é arrancar!
E, com as penas, sua pele
Nós vamos também tirar.
Pelada e toda ferida
A senhora vai ficar!
E sem dó nem piedade,
Cumpriram a triste sentença!
A gralha, que na verdade
Já era pavão, por crença
Viu-se triste e depenada,
Sofrendo com a indiferença!
Pensou assim: - Vou voltar
Para os meus velhos amigos,
E a todos vou contar
O que aconteceu comigo.
Sei que não vão me negar
Alimento... E um bom abrigo!
E as gralhas lhe receberam
Com amor e solidariedade!
Mas, antes, à velha amiga,
Disseram grande verdade:
Melhor ser feio e autêntico
Do que belo com falsidade!
Este trabalho é baseado em "A gralha e os pavões" de Esopo, fabulista grego do século VI A.C.
Maria do Socorro Domingos dos Santos Silva
João Pessoa, 26/01/2012