SANGUE BOM É O CARIOCA
Carioca vive rindo
Ri do filme de comédia
Quando olha uma tragédia
Ou da inflação subindo
Da casa que está caindo
Carioca também chora
Quando leva um “passa fora”
Chora quando vê maldade
Também chora de saudade
Da mulher que foi embora
Ele gosta de trabalho
Pode ser numa pedreira
Ou gritando pela feira
“vai batata, leva alho”
Também gosta dum baralho
Carioca joga dama
Corre com o pé na lama
Mas se cai uma garoa
Ele fica numa boa
Sem se levantar da cama
Carioca é amante
Não quer compromisso sério
Ele samba no Império
Vive sempre elegante
Gosta dum bom restaurante
Mas se vê mulher bonita
Carioca laça a fita
Se transforma num bom moço
Topa até levar almoço
Preparado em marmita
Carioca é farrista
Esbanja borogodó
Mostra ginga no forró
Tira onda de sambista
Joga vôlei, é surfista
Troca a noite pelo dia
O seu idioma é gíria
Bota bola na caçapa
Seu reduto é a Lapa
Palanque da boêmia
Ele gosta dum espelho
Carioca é peralta
Traz no peito a cruz de malta
Ou veste preto e vermelho
Reza sempre de joelho
Pois da fé ele não foge
Leva o terço no alforje
Sua vida é protegida
Pela Santa Aparecida
E a espada do São Jorge
Ele curte frescobol
E as notas do violão
Balança no pancadão
Vive pelo futebol
Morre se não tiver sol
Carioca é festeiro
Ele torce pro Salgueiro
Pra Mangueira e pra Portela
Carioca é aquarela
A face do brasileiro
P S ASSIS