Lembranças... Autor: Damião Metamorfose.

*

Eu lembro o café torrado

Num alguidar ou num caco.

Feito com água de pote

Depois coado num saco.

Adoçado com alfenim

Ou rapadura, é o fraco!

*

Um torno com um bisaco

De couro e um gibão...

Um arreio e um cabresto,

Para por no alazão

Ou num jegue e ir buscar

Água lá no cacimbão!

*

Milho pilado em pilão

Por duas moças bonitas.

Cabelos longos ao vento

Ou preso em laços de fitas

Lembro também dos forrós,

Pra balançar as cambitas...

*

Lembro eu tangendo as cabritas,

Com meu cavalo de pau.

Na minha infância inocente

Sem conhecer bem ou mau.

Hoje só resta lembrança

Daquele tempo... Babau!

*

São momentos que afinal

Não tem mais como esquecê-los.

Hoje com o pincel do tempo

Branqueando os meus cabelos.

A saudade a todo instante

Ataca-me sem apelos!

*

Lembro quando eu juntei selos

Quase que pedindo esmola...

Pra trocar num vale brinde

E depois em uma bola.

Foi tempo das vacas magras,

Mas a saudade me assola!

*

Lembro que fui pra escola

Na intenção de comer

A merenda, porém quando

Peguei gosto em aprender.

Fui o primeiro lugar

Três anos, por merecer...

*

Rico é quem podia ter

Lâmpada a bujão de gás.

-E as noites de cantoria,

Que hoje em dia não se faz

Iguais as de antigamente...

Quanta saudade me traz!

*

Há poucos tempos atrás

A gente se reunia.

Para debulhar feijão

Varias noites e fazia

O que hoje é um mutirão,

E esse nome eu nem sabia!

*

Tenho lembrança do dia

Que não vai voltar jamais.

Lembranças da juventude,

Dos meus irmãos e os meus pais...

Lembranças que vão e voltam

E o tempo não volta mais!

*

Mesmo com dias iguais,

A vida era divertida.

Por isso eu ainda lembro

Daquela vida sofrida.

Sem dinheiro e sem problemas,

Sem doença... Isso é que é vida!

*

O tempo passa com a lida

Mais veloz do que o vento...

E a mente registra tudo

Num canto do pensamento.

Dia a dia a gente lembra

Da vida em cada momento...

*

Lembro da escola e comento

Tudo era diversão.

Um apelidava o outro

Pra fazer chateação...

E o meu apelido era:

Tão somente: gavião!

*

Lembro do velho fogão

A lenha todo engendrado.

Que eu subia encima dele

Devido o vento gelado.

Pra tomar café com bolo

De milho, bem caprichado!

*

Lembro o beiju bem salgado,

Feito no velho alguidar.

A vida era muito simples,

Mais simples era o meu lar.

Hoje distante de tudo

Lembro e não posso voltar!

*

Dá vontade de chorar

Só em lembrar a terrinha.

Ainda bem que saudade

Dói, mas é santa meizinha.

Pra lembrança não deixar

Que a gente seja mesquinha...

*

Lembro a humilde casinha

Que nasci e fui criado.

Na frente tinha o terreiro

Atrás tinha um roçado

De um lado tinha um açude

E uma mata do outro lado!

*

Lembro o juazeiro copado

Que tinha lá no oitão

Da casinha onde eu morava

Com pai, mãe e dois “irmão”

Tenho saudade de tudo

Que vivi lá no Sertão!

*

Eu lembro o Gonzagão

Que Asa branca era o hino.

Forró dos três do Nordeste

E do Trio Nordestino.

E o Forró no Varandão

Dancei quando era menino!

*

Lembro que não fui grã fino

Minha bola era de meia.

Com folhas de marmeleiro

E molambo ela era cheia.

Não pulava nem um metro

Do chão e era bem feia!

*

Lembro os dias na cadeia,

Onde eu tive que ficar

Trinta dias enjaulado,

Porque tive que pagar.

Uma conta sem dever...

Paguei sem ter que chorar!

*

Lembro quando eu vi o mar

Lindo em sua imensidão.

Fiquei pensando num canto

Qual fundura é o porão?

Só que o meu peito sangrava

Saudade, e ele não...

*

Na minha mente um telão,

Passa um filme detalhado.

Com roteiro e meking off

Tudo o que foi gravado.

Com fragmentos de vida

De codinome, passado!

*

Chegar da roça, suado,

E tomar banho de açude.

Brincar pulando de árvore,

Jogar bolinha de gude.

Eu lembro essa fase boa,

Pobre... Mas fiz o que pude!

*

Lembro a baladeira rude,

Com a liga toda emendada.

Eu saindo pra caçar,

Só que não matava nada...

Pois não matei nem o tempo

E essa saudade arretada!

*

Lembro eu indo à vaquejada,

Pisando no “lamaçal”

Sem um centavo no bolso

E era feliz, afinal.

Não tem dinheiro que pague

Minha época jovial!

*

Colher perto do curral,

Maxixes e melancia

Da praia para comer...

Quando era inverno eu colhia

Que saudade desse tempo

E das coisas que eu fazia!

*

Lembro bem aquele dia

Que arrumei a minha mala

E disse adeus aos meus pais

E irmãos tremendo a fala.

Posso até calar a boca,

Só que a saudade não cala!

*

Lembro o canto lá na sala

Onde eu armei minha rede.

De um lado ficava o pote,

Aonde eu matava a sede.

O calor eu refrescava

Metendo o pé na parede!

*

Lembro do cadê e quede

Que usava pra perguntar

Onde estava alguma coisa...

E era Dito popular

Que passou, mas a saudade,

Essa insiste em não passar!

*

Por aqui vou terminar

Meu Cordel de nostalgia.

Pra quem leu pode ser triste,

Mas nem tudo é alegria.

Graças a Deus que os Poetas

Transformam-nas em poesia!

*

E quem sabe em outro dia

Volte a falar de lembrança.

Brincando coma inspiração,

Que em minha mente dança.

E descreva em outros versos,

O meu tempo de criança.

*

Fim.

Damião Metamorfose
Enviado por Damião Metamorfose em 24/01/2012
Código do texto: T3458736
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