Lembranças... Autor: Damião Metamorfose.
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Eu lembro o café torrado
Num alguidar ou num caco.
Feito com água de pote
Depois coado num saco.
Adoçado com alfenim
Ou rapadura, é o fraco!
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Um torno com um bisaco
De couro e um gibão...
Um arreio e um cabresto,
Para por no alazão
Ou num jegue e ir buscar
Água lá no cacimbão!
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Milho pilado em pilão
Por duas moças bonitas.
Cabelos longos ao vento
Ou preso em laços de fitas
Lembro também dos forrós,
Pra balançar as cambitas...
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Lembro eu tangendo as cabritas,
Com meu cavalo de pau.
Na minha infância inocente
Sem conhecer bem ou mau.
Hoje só resta lembrança
Daquele tempo... Babau!
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São momentos que afinal
Não tem mais como esquecê-los.
Hoje com o pincel do tempo
Branqueando os meus cabelos.
A saudade a todo instante
Ataca-me sem apelos!
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Lembro quando eu juntei selos
Quase que pedindo esmola...
Pra trocar num vale brinde
E depois em uma bola.
Foi tempo das vacas magras,
Mas a saudade me assola!
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Lembro que fui pra escola
Na intenção de comer
A merenda, porém quando
Peguei gosto em aprender.
Fui o primeiro lugar
Três anos, por merecer...
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Rico é quem podia ter
Lâmpada a bujão de gás.
-E as noites de cantoria,
Que hoje em dia não se faz
Iguais as de antigamente...
Quanta saudade me traz!
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Há poucos tempos atrás
A gente se reunia.
Para debulhar feijão
Varias noites e fazia
O que hoje é um mutirão,
E esse nome eu nem sabia!
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Tenho lembrança do dia
Que não vai voltar jamais.
Lembranças da juventude,
Dos meus irmãos e os meus pais...
Lembranças que vão e voltam
E o tempo não volta mais!
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Mesmo com dias iguais,
A vida era divertida.
Por isso eu ainda lembro
Daquela vida sofrida.
Sem dinheiro e sem problemas,
Sem doença... Isso é que é vida!
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O tempo passa com a lida
Mais veloz do que o vento...
E a mente registra tudo
Num canto do pensamento.
Dia a dia a gente lembra
Da vida em cada momento...
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Lembro da escola e comento
Tudo era diversão.
Um apelidava o outro
Pra fazer chateação...
E o meu apelido era:
Tão somente: gavião!
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Lembro do velho fogão
A lenha todo engendrado.
Que eu subia encima dele
Devido o vento gelado.
Pra tomar café com bolo
De milho, bem caprichado!
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Lembro o beiju bem salgado,
Feito no velho alguidar.
A vida era muito simples,
Mais simples era o meu lar.
Hoje distante de tudo
Lembro e não posso voltar!
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Dá vontade de chorar
Só em lembrar a terrinha.
Ainda bem que saudade
Dói, mas é santa meizinha.
Pra lembrança não deixar
Que a gente seja mesquinha...
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Lembro a humilde casinha
Que nasci e fui criado.
Na frente tinha o terreiro
Atrás tinha um roçado
De um lado tinha um açude
E uma mata do outro lado!
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Lembro o juazeiro copado
Que tinha lá no oitão
Da casinha onde eu morava
Com pai, mãe e dois “irmão”
Tenho saudade de tudo
Que vivi lá no Sertão!
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Eu lembro o Gonzagão
Que Asa branca era o hino.
Forró dos três do Nordeste
E do Trio Nordestino.
E o Forró no Varandão
Dancei quando era menino!
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Lembro que não fui grã fino
Minha bola era de meia.
Com folhas de marmeleiro
E molambo ela era cheia.
Não pulava nem um metro
Do chão e era bem feia!
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Lembro os dias na cadeia,
Onde eu tive que ficar
Trinta dias enjaulado,
Porque tive que pagar.
Uma conta sem dever...
Paguei sem ter que chorar!
*
Lembro quando eu vi o mar
Lindo em sua imensidão.
Fiquei pensando num canto
Qual fundura é o porão?
Só que o meu peito sangrava
Saudade, e ele não...
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Na minha mente um telão,
Passa um filme detalhado.
Com roteiro e meking off
Tudo o que foi gravado.
Com fragmentos de vida
De codinome, passado!
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Chegar da roça, suado,
E tomar banho de açude.
Brincar pulando de árvore,
Jogar bolinha de gude.
Eu lembro essa fase boa,
Pobre... Mas fiz o que pude!
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Lembro a baladeira rude,
Com a liga toda emendada.
Eu saindo pra caçar,
Só que não matava nada...
Pois não matei nem o tempo
E essa saudade arretada!
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Lembro eu indo à vaquejada,
Pisando no “lamaçal”
Sem um centavo no bolso
E era feliz, afinal.
Não tem dinheiro que pague
Minha época jovial!
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Colher perto do curral,
Maxixes e melancia
Da praia para comer...
Quando era inverno eu colhia
Que saudade desse tempo
E das coisas que eu fazia!
*
Lembro bem aquele dia
Que arrumei a minha mala
E disse adeus aos meus pais
E irmãos tremendo a fala.
Posso até calar a boca,
Só que a saudade não cala!
*
Lembro o canto lá na sala
Onde eu armei minha rede.
De um lado ficava o pote,
Aonde eu matava a sede.
O calor eu refrescava
Metendo o pé na parede!
*
Lembro do cadê e quede
Que usava pra perguntar
Onde estava alguma coisa...
E era Dito popular
Que passou, mas a saudade,
Essa insiste em não passar!
*
Por aqui vou terminar
Meu Cordel de nostalgia.
Pra quem leu pode ser triste,
Mas nem tudo é alegria.
Graças a Deus que os Poetas
Transformam-nas em poesia!
*
E quem sabe em outro dia
Volte a falar de lembrança.
Brincando coma inspiração,
Que em minha mente dança.
E descreva em outros versos,
O meu tempo de criança.
*
Fim.