O FARDO
Oh meu Deus da piedade
Ando tão atormentado
Necessito de ajuda
Eu já vivo tão cansado
Sei que é o glorioso
Que nos livra do pecado
Eu procuro a linha reta
Ando numa direção
Mas parece que acabo
Trafegando em contra mão
Pois eu fico receoso
De cair na perdição
Eu procuro agir correto
Suas leis é minha malha
Nesta vida de perigos
Onde o justo também falha
Se termino uma luta
Recomeça outra batalha
Oh meu Deus me dê ouvidos
Escute a minha oração
Estou de cabeça quente
Tal panela de pressão
Sou um camponês fugindo
Dos dejetos do vulcão
Minha flor, de tanta inveja
Não exala mais perfume
Minha casa virou antro
De injuria e queixume
A esposa envenenada
De rancor e de ciúme
No trabalho me destaco
Porém nunca sou notado
Peças ruins são escolhidas
Já eu fico de lado
Posso adormecer tranqüilo
E acordar desempregado
Até minha parentela
Hoje clama por cuidados
Por ser uma prole grande
São todos endividados
Se lhes sobram alegrias
Está faltando uns trocados
Minha criatividade
Não revela um novo verso
Imagino a rima certa
Mas escrevo o inverso
Eu sou um poeta perdido
Como estrela no universo
Já tentei diversos planos
Mas nada deu um jeito
Quanto mais eu me defendo
Mais as facas vêm ao peito
Caso elas me perfurem
Eu lhe clamo por efeito
Oh meu Deus me dê à chave
Cujo abra esta algema
Faz de mim um livramento
Recriai um novo tema
E trarei você comigo
Como quem traz um emblema
Mas no meio dos percalços
Encontrei uma virtude
Sou homem de muita força
Gozo ainda a juventude
Meus ossos são inteiros
Não me falta a saúde
Escrevendo este texto
Deus se pôs a confortar
Meu corpo e minha alma
Se inclinou pra me mostrar
Que somente dá o fardo
Pra quem pode carregar
P S ASSIS