Estas são coisas da vida De quem vive no sertão
Levantar cedo e rezar
Para a Virgem Padroeira
Botar água na chaleira
No fogão pra esquentar
Depois de o café coar
Corta um pedaço de pão
Bota dentro do gibão
E se manda para a lida
Estas são coisas da vida
De quem vive no sertão!
O velho pega a semente
E o filho abre a cova
Pra fazer rocinha nova
Debaixo de sol bem quente
Reza à Deus que de repente
Acabe logo o verão
Que a chuva caia no chão
Pra não lhe faltar comida
Estas são coisas da vida
De quem vive no sertão!
Como um fio de navalha
Afia a sua enxada
Deixa na sombra encostada
E enrola um fumo na palha
Pra seguir sua batalha
Sempre faz sua oração
Come o arroz com feijão
Depois dá uma dormida
Estas são coisas da vida
De quem vive no sertão!
Quando chega o fim do dia
Vai pra casa e descansa
Na esposa ele faz trança
E escuta a Ave Maria
A candeia alumia,
Acaba com a escuridão
E esquenta o coração
Desta gente destemida
Estas são coisas da vida
De quem vive no sertão!
Chega cansado da roça,
a filharada o apoquenta.
Porém ele não esquenta,
entra no clima da troça
e faz a festa na choça.
Com a viola na mão
fala do amor, da emoção
pela família querida.
Estas são coisas da vida
de quem vive no sertão.
(Gilson Faustino Maia)