SAMURAI
Jorge Linhaça
 
Desembainho a minha espada,
num ritual do código bushido,
a honra de amigos atacada,
a esperança quase imolada,
pela estrada eu me vou...
 
Sou guerreiro do meu Giri,
consciente  no meu Gisei,
confiante no meu Mushim,
no meu Gambau vou assim,
seguindo o meu Harugei
 
Aumento meu Kan e o Ken,
deposito sempre o meu Amae,
vou em busca do meu Kaizen,
e ,se, me decepciona, alguém,
utilizo a força do meu Ude.
 
Caminho com meu Gaiman,
minha espada , minha companhia..
Viver com o mundo em Enman,
é meu desejo toda manhã,
luto batalhas com minha poesia.
 
Se à terra do sol nascente,
tantas odes faço, escrevo,
é admiração que a alma sente,
mas nunca foi certamente,
por uma mulher o desejo...
 
Nas tintas de minha poesia,
tantas linhas eu já escrevi,
tantas foram as companhias,
de terras ultra-marinhas,
ou de pessoas mesmo daqui.
 
Acompanho versos que gosto,
que me aguçam a inspiração,
por isso duetos vários eu posto,
com homens e mulheres e aposto,
que não frutos de oculta paixão.
 
Chora, Guitarra , chora o fado,
nas tascas famosas da alfama,
Chorai por nós e nossos pecados,
de como poetas andarmos ao lado,
de quem os versos nos inflama.
 
Chora gaita, conta os baixos,
por este mundão afora.
Se meus versos eu encaixo,
em outros versos que acho,
é por que a poesia me aflora.
 
 
 Os quatro G’s (Giri, Gisei, Gaman e Gambaru):
Giri significa ‘obrigação, dever, justiça’ um forte laço que une as pessoas, desde as relações entre jovens e idosos ou entre pais e parentes, até a lealdade mútua.
 Gisei significa ‘sacrifício’ e representa a força que faz o empreendedor abrir mão da companhia dos amigos, afastar-se da família e abandonar prazeres pessoais para se dedicar ao seu negócio, quando necessário. Gaman significa ‘tolerância, perseverança, resistência’ e remete para a necessidade de agüentar o que às vezes pode parecer insuportável, não perder a paciência nem a calma sob qualquer circunstância. Gambaru significa ‘esforço, persistência’, a capacidade de se envolver de forma profunda e determinada, não quebrar, não cair, manter-se firme e forte e não desistir jamais. 

O entendimento do Ken (visão) e do Kan (conhecimento): Precisam vir sempre juntos para melhor entender a realidade. Através da visão do futuro, clara e significativa, o empreendedor pode vislumbrar melhor suas possibilidades e alternativas, que, junto com o conhecimento do contexto e dos detalhes da operação, ajudam a tomar as decisões mais sábias.

 Melhoria contínua (kaizen): O samurai é um perfeccionista. Está sempre treinando e buscando a perfeição de forma a se tornar sempre um guerreiro melhor hoje do que era ontem. Da mesma forma, o empreendedor é um obstinado pela qualidade, seu orgulho pelo resultado do seu trabalho impõe um nível de excelência que representa sempre um desafio para ele.

 Atitude mental (Mushin): O código dos samurais diz: ‘É difícil derrotar os inimigos; é fácil derrotar a si mesmo’. Esta pode ser a mais valorizada virtude dos samurais para os japoneses, bem como a mais difícil de se desenvolver. Meditação, privações, confrontações com sentimentos como o medo e resistência à dor faziam parte deste processo. Todo o treinamento se concentrava no auto-conhecimento, que gerava auto-confiança e a decorrente segurança nas decisões em momentos de crise e dificuldade.

 Confiança (Amae): Por natureza, o samurai acredita, em primeira instância, que as pessoas, de uma forma geral, são boas e honestas. O pressuposto básico que permeia todo início de relacionamento é a confiança. Comer e beber juntos, trocar presentes e lembranças de amizade, participação em fases da vida são formas de construir o ‘amae’. Normalmente o empreendedor também adota uma postura parecida com esta, que às vezes, é confundida no Brasil como ‘ingenuidade’, mas na verdade, é apenas a manifestação de confiança irrestrita. Eventualmente, as pessoas podem provar que não merecem tal confiança e embora o preço possa ser alto, o empreendedor prefere aprender desta forma sobre o caráter das pessoas.

 Habilidades escondidas (Ude): Ao contrário da cultura ocidental, que valoriza a auto-promoção, o marketing pessoal, a exploração das próprias qualidades e habilidades, entre os japoneses é comum manter-se escondido, mostrando um perfil modesto, restrito, contido e reservado, sem vangloriar-se ou exibir-se gratuitamente, deixando para revelar suas mais importantes forças no momento apropriado, surpreendendo a todos e de forma estratégica. Por este motivo, símbolos de poder, como salas executivas, benefícios exclusivos ou qualquer evidência de superioridade são rechaçados na cultura oriental.

 Intuição (Haragei): É comum atribuir a capacidade perceptiva e intuitiva ao empreendedor. Entre os samurais, esta característica é fundamental aos seus instintos. Haragei significa ‘pensar com o estômago’ e era um dos traços que famosos empresários japoneses como Konosuke Matsushita, Soichiro Honda ou Akio Morita compartilhavam. A observância a detalhes, a visão holística, o conhecimento tácito, a disciplina constante na educação fazem parte deste treinamento, herdado dos samurais.

 Harmonia (Enman): Das artes marciais à cerimônia do chá, da culinária às manifestações artísticas como o ikebana, tudo o que permeia a cultura japonesa contém elementos que se traduzem em equilíbrio, harmonia e balanço. Nas relações de negócios, a paciência é uma virtude essencial que se traduz em longas rodadas de negociação e a busca da compreensão da posição do outro ajuda nos ajustes mútuos constantes para encontrar soluções ganha-ganha. A situação vitorioso-derrotado é indesejada, mesmo em situações de guerra. Até bem pouco tempo, um jogador japonês típico não comemorava os gols marcados por considerar uma falta de respeito para com o adversário.