Cem por cento mentira * Autor: Damião Metamorfose.
Eu não valho uma ubaia,
Mas mamãe diz que eu presto.
Meu pai não aposta nisso...
Meus irmãos, fazem protesto.
Contra esse elogio...
e eu, que não sou vadio,
Passo por cima do resto!
*
Às vezes só com protesto
eu faço o que é preciso...
Noutras eu faço mal feito
E acabo no prejuízo.
E nesse bota e não tira
Ainda bem que é mentira
Essa falta de juízo!
*
Desrespeitando o aviso,
Eu trabalho até deitado.
A noite inteira ou ao dia
Estando ou não acordado.
É um trabalho gostoso,
E por eu ser trabalhoso,
Nunca fico nem cansado!
*
Sansão é meu aliado
E também é meu vizinho.
Tenho mais força que Ele,
Com um só dedo mindinho...
Faço tudo o que Ele fez
E ainda digo a vocês,
Ele é franzino e baixinho!
*
Não sou a flor nem o espinho,
Nem fedido nem cheiroso.
Nem sucesso e nem fracasso,
Nem sou calmo e nem teimoso.
Sou o mar e sou o cais,
Sou os dois e muito mais...
E afirmar é duvidoso!
*
Eu sou o michê fogoso
Que dá plantão numa esquina.
Travestido até os dentes
Se vender é a sua sina.
Todo joiado e montado,
Cheirando a chifre queimado,
Com enxofre e gasolina...
*
Não a classe alta e fina
Sou brega, Sou popular...
E quem não gostar de mim
Assim, que vá se reiar.
Ou mame em peito de jia,
O que devo está em dia,
Sem dever, não vou pagar!
*
Sou requintado e vulgar
E já fui nobre também.
Mas comecei a enrolar
Cigarro em nota de cem...
Hoje eu sou um lascado
Papudinho pé rachado
Não tenho nenhum vintém!
*
Já fui gandula, se bem
De futebol de botão.
Também já fui um jogador,
Mas mudei de profissão.
Depois eu me preparei
Dez anos e me formei,
Virei coveiro de anão!
*
Sou jovem, quase ancião
Um velhote na verdade.
Pois já passei dos cinquenta
Pra cem passou da metade.
Agora eu quero saber,
Quantos anos vou viver...
Se nem tenho a meia idade?
*
Perdi minha mocidade
Nos braços da minha lira.
Só fazendo amigos falsos
Igual lenda curupira...
Tipo: primeiro de Abril
Ou esse falso perfil,
Que é cem por cento mentira!