DESCOMPLICADO

Todo vaidoso escorrega

e vai de costado ao chão,

num ridículo se entrega;

de tanto tornar-se brega

vira um grande bobalhão.

De nada vale a vaidade

– tudo simples já supera,

e, pois, falando a verdade,

viver com simplicidade

é tudo o que mais quisera.

Posso ter algum tiquinho

das vaidades mais humanas;

em tendo, só me amesquinho,

passo a ser igual, todinho,

ao mais reles doidivanas.

Quem tem uma qualidade,

uma só que ao menos seja,

não monta em futilidade,

rejeita qualquer vaidade,

vai ser simples, onde esteja.

Ante um gajo presunçoso,

este um me põe danisco;

largo do sério, nervoso,

doido pra pôr o vaidoso

num grande cestão de cisco.

Sabendo, de mim, não tenho

vaidade, a tal presunção,

ou, pelo menos, me empenho

sequer da mesma desenho

guardá-lo em meu coração.

Longe de alguns elogios,

então melhor é não tê-los

e, se não me acrescem brios,

por que me ufanar duns fios

que me restam nos cabelos?

Vivei como Deus vos fez,

oh homem, minha senhora,

oh mais pedante burguês!

Quero só, com sensatez,

irmanar-me à fauna e flora.

Sem empáfia, desmontado

das bagagens do poder...

Uno, o mais descomplicado,

potência a mil do quadrado,

de tão simples – vir a ser.

Descomplicado total,

tocando o barco da vida,

como qualquer animal,

do jeitão mais natural,

sem pôr dedo na ferida.

Fort., 06/01/2012.

Gomes da Silveira
Enviado por Gomes da Silveira em 06/01/2012
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