AH TEMPO DANADO!
Segue devagar o tempo
mas firme e inexorável
levando minutos, horas,
taciturno, insondável,
a tudo indiferente
olhando sempre à frente
carrasco indesejável
Não tendo tempo de sorrir
o tempo não tem alegria
solitário, carrancudo,
tosco verso de poesia
segue na linha da brisa
solitário, não desliza,
doce e leve fantasia
Um risco traçado no ar
vagalhão do esquecido
folha seca pelos anos
um velho aborrecido
tempo é sujeito ranzinza
mares cobertos de cinza
um pária enlouquecido
Não há meio termo com ele
não gosta de dialogar
no seu mutismo crônico
frases não vão adiantar
insensível tal tirano
age como soberano
não podemos nos rebelar
Lá vai ele no seu rumo
nem um centímetro cede
na carreira dos seus dias
licença ele não pede
aos apelos insensível
esse abstrato risível
jamais a distância mede
Como chicote do vento
tsunami do destino
rajada de tempestade
horripilante felino
é víbora indiferente
um mistério indecente
imensa boca de sino
Esse pau de dar em doido
sem tempo, tempo chamado
por sábio tão conhecido
vezes amaldiçoado
arma que todos desejam
sonho que muitos almejam
é por alguns venerado
De modo que o tempo voa
ninguém tem tempo pra nada
o tempo se passa ligeiro
ganha tempo a namorada
pra quem tem tempo de sobra
ganhar tempo e mãos à obra
ter tempo pra passarada
Por que inventaram o tempo
esse monstro controlador?
Queria ser dono do meu
gastar tempo com meu amor
sem ontem, hoje, sem nunca
mas esse tirano trunca
os espasmos do meu ardor