De onde venho
Afim de saber minha história,
Retiro um livro da estante.
Saber do trajeto deles
Como será que viveram antes?
Minha avó chamou Doralice
Isso foi minha mãe quem me disse
Mas preciso saber do restante.
Uma parte nasceu aqui mesmo,
Outra parte que veio de Minas,
Pra tentar a vida em São Paulo
Vieram ainda meninas.
Não foi do tempo dos navios,
Mas vieram avós e tios
Uma parte hoje tá lá em cima.
Uma geração eu conheço,
Mas isso não é o bastante.
Contaram que a minha bisa
Era uma índia deslumbrante.
Nem tive o prazer de ver,
Antes de mesmo de eu nascer,
Juntou-se a sua falange.
Será que ainda encontro,
Sobre o tempo dos cativeiros?
Será que tive na família,
Pretos velhos ou feiticeiros?
Seria uma honra pra mim,
Que minha família enfim
Nomeasse esses velhos guerreiros.
Contudo, sempre me pego,
Curioso e ainda a pensar
Se não tive isso na minha árvore
Poderia então me chatear?
O que seria desse meu gosto
Que me põe um sorriso no rosto
Quando faço um tambor falar
Às vezes não me importa,
O que sou, eu carrego comigo
Negro de alma e branco por fora,
Ou então esse lance invertido
O que mesmo me impressiona
Quando o som do tambor vem à tona
Esqueço o passado perdido.