A Revolta dos Quebra Quilos


A revolta dos quebra quilos
Jorge Linhaça

A mudança das medidas
Para Quilo, Litro e Metro
Afetou do povo as vidas
Como coisas de esperto

Lá no século dezoito
O uso frances se expande
Deixando o povo afoito
Desde a Campina Grande

Não era só a mudança
No tipo de aferição
No meio dessa lambança
havia o imposto de chão

Toda a mercadoria
Ali exposta e vendida
Por metro então pagaria
imposto, sangrava a ferida

Todo o comerciante
devia alugar ou comprar
a nova medida reinante
no governo do lugar

Trezentos e vinte réis
Era o preço d'uma medida
Repassado ao povaréu
e n'algibeira sentida

De outubro , em trinta e um
de sete e quatro de oitocentos
O povo de cem se fez um
Em seu descontentamento

Marcharam sobre a cidade
Quebrando os moldes do peso
Atirando o resto ao açude
Demonstrando não ter medo

Invadiram os mercados
Câmaras e as coletorias
Documentos foram queimados
Inda em plena luz do dia

A revolta se espalhou
Para além da Paraíba
Pernambuco de aliou
Alagoas viu , gostou
Rio Grande do Norte aderiu
Ao Ceará também chegou

Os aumentos dos impostos
Não foi a única ferida
O serviço militar
Chegava aos bens de vida

Há quem diga que a mudança
Era coisa do diabo
A igreja entrou na dança
dois padres investigados

Se foi massa de manobra
O povo assim revoltoso
Exemplos inda há de sobra
Pra quem não for preguiçoso

Se um clamor popular
Cai no gosto ou interessa
A quem no alto quer estar
Já está formada a festa

Inconfidência Mineira
Revolução farroupilha
Foram de quem tinha algibeira
Manobrando a camarilha

E tome o Diretas Já
Também os caras pintadas
Que tomaram seu lugar
Por alguns manipuladas

Não tiro aqui o seu mérito
Mas quem bem sabe assistiu
No palanque os eméritos
e nas ruas o pavario

Voltemos aos quebra quilos
Em mil cordéis já cantados
Mas de todo esquecidos
tantos anos já passados

As tropas imperiais
deram fim ao movimento
Tudo no tempo do império
tinha um desfecho sangrento

Alguns líderes foram mortos
outros foram condenados
a andar qual semi-mortos
em coletes de couro atados

Os coletes de couro cru
Eram neles amarrados
Qual a casca de um tatu
E depois eram molhados

Quando o couro ia secando
Ao mesmo tempo encolhia
Os pobres martirizando
provocando asfixia

Se hoje temos quilo e grama
Se temos metro e litro
Não foi sem dor ou sem drama
dum povo pobre e aflito

Se esta história hoje conto
Após muito pesquisar
é pra que saibam o quanto
precisamos resgatar.

Se sou poeta não sei
nem tampouco historiador
As duas coisas juntei
Pra agregar-lhes valor

Muito há que ser escrito
Muito há de esquecido
Nem tudo pode ser bonito
Mas há de ser revivido.