Votar? Pra Que?
Votar? Prá Quê.
Eu tô me lembrano agora
Dos meus tempos de minino,
No fim dos anos quarenta;
Não maginava distino
E meu pai Zeca Silvino,
Viveria até os oitenta.
Mas por ser anarfabeto
De pai de mãe e de avô,
Nem sequer registro tinha;
Pra nois tinha seu valor
E na profissão que abraçou,
Com jeito ele nos mantinha.
Num gostava de lorota
Nem de coisa mal tratada,
Mas era conversador;
Era home de palavra
Cumpria o que tratava,
Até dibaixo de dor.
Tinha cisma de político
Num gostava de doutor,
Nem de padre nem de crente;
E ele sempre nos dizia
“Quer viver com alegria,
Não dê VOTO pressa gente.”
“Votar prá quê? Num adianta!
Nois nem sabemo votá!
Nem o qui eles vão fazer;
Pra nois num tem serventia
Pra eles é mordomia,
E nois só vamo sofrer.”
É pai, o senhor tava certo
Essa gente num vale nada,
Nem a comida que come;
Enquanto eles enriquece
Nois pobre sofre e padece
Com um salário de fome.