NO MUNJOLO DA FARINHA

Na cidade de Caconde, lá pras bandas da Barra

Onde a luz é do vagalume e a música é da cigarra

Nasceu seu Heitor de Arruda, Homem de muita garra

Filho do grande Zé Bento, homem de grande talento

Que toda chance agarra.

Heitor ainda bebê, oito meses de idade

Já falava em conhecer, os arredor da cidade

Saiu com a mãe prá fazer, farinha de qualidade

Para brincar no monjolo, o bebe saiu do colo

Era só felicidade.

Sua mãe toda entretida, mexia no tacho a farinha

Não viu que o menino, gatinhava pela linha

Ao desviar da raiz, que estava no caminho

Escorregou pelas beiras, foi cair na ribanceira

No buraco do escaninho

Sua mãe ao ver aquilo, saiu correndo gritando

Daquele buraco fundo, o menino foi tirando

Não posso esquecer o tacho, a farinha tá queimando

Pôs o menino molhado, perto do fogo enrolado

Enquanto o biju foi formando

Mas o menino ao cair, a mãe nem percebeu

Que num toco lá no fundo, sua cabeça bateu,

Ficando desacordado, respirando não morreu

Depois do tacho mexido, pegou o menino caído

Viu que sua boca torceu.

Tirou o menino molhado, fora daquele vapor

Mas já tinha ocorrido, com ele um grande estupor

Uma parte do seu corpo, não sentia nada nem dor

Não havia hospital, ninguém conhecia este mal.

Nenhum enfermeiro ou doutor.

Um farmacêutico da vila, conhecedor de raiz

Sugeriu um tratamento, que aprendeu em Pariz

Com óleo de alho São Paulo, nisso ele foi feliz

Ele passou o óleo quente, naquele corpo dormente

Da ponta do pé ao nariz.

Aos três anos de idade, o menino reviveu

A perna que não andava, naquele dia mexeu

E tudo foi alegria, da tristeza se esqueceu

E o menino saltitava, enquanto o seu pai gritava

Ele andou, graças a Deus.

O menino cresceu saudável, mas a seqüela ficou

O seu olho da esquerda, com um problema ficou

Uma veia estourou com o tombo que ele levou

Sempre que ouve uma história, seu olho sozinho chora

Dizendo que emocionou

Sua boca coitadinho, com o estupor entortou

Não foi assim tão horrível, mas a seqüela ficou

Este problema da face, muito lhe incomodou

Mas não deixou de viver, tratou logo de esquecer

E sua vida mudou.

Um menino sacudido, um grande trabalhador

Já moço, um belo rapaz, conheceu o seu amor

Teve a família aumentada, um presente do Senhor

Nasceu do seu casamento, uma menina de talento

Com um futuro de valor

Foi assim que aconteceu, esta história que contei

Ficaram faltando detalhes, outras coisas que não sei

Hoje tem setenta e cinco, com ele comemorei

Com sua esposa querida, teve sucesso na vida

E tudo dentro da lei.

Paulinho de Freitas
Enviado por Paulinho de Freitas em 04/12/2011
Código do texto: T3371952