UMA HISTÓRIA DE AMOR
QUE VENCE A DIVERSIDADE

Oh, musas da poesia!
Eu vos peço inspiração
Para contar uma história
Que aconteceu no Sertão.
História de vida dura
Porém cheia de ternura,
De amizade e de paixão.

Sabemos que o coração
Não escolhe a quem amar
Sendo assim, caro leitor,
O caso que eu vou contar,
É cheio de bons momentos
Porém de alguns sofrimentos,
Em todo o desenrolar.

Aqui eu passo a contar
Essa história que, eu diria,
Se não fora alguns momentos,
Só de alegrias, seria.
E que se passa, em verdade,
Em uma bela cidade
Do Nordeste: Alexandria.

Como uma preliminar,
Eu digo a quem me está lendo:
Quando a fiz, me imaginava
Como se estando vivendo
No espaço em que se passava,
E quase que acreditava:
Comigo estava ocorrendo.

Joaquim de Seu João do Vale
Era, pois, um bom rapaz
Natural de Alexandria.
E alguns anos atrás
De lá ele deslocou-se,
Para a capital mudou-se.
Veja o que o destino faz:

Logo que em Natal chegou,
Conheceu uma menina
De beleza incomparável
Que se chamava Silvina.
Joaquim logo percebeu
Que, ali, no destino seu,
Houve intervenção Divina.

Porém, como é natural,
Entre a pobreza e a riqueza
Há sempre a dificuldade
Que lhe impõe a “realeza”,
Onde só um coração
Cheio de amor e paixão
Transpõe tudo com destreza.

O pai da bela Silvina,
Quando ficou sabedor
Do namoro proibido
Ficou cheio de estupor:
Fulo, apoplético, zangado.
Chamando a esposa de lado,
Desabafou sua dor:

- Eu não hei de permitir
Que a minha filha querida
Case com um cabrinha destes
Que não tem nada na vida,
Pois sempre teve o que quis!
Não poderá ser feliz.
Vou tomar uma medida.

Mas Silvina quando soube
Da opinião do seu pai
Com relação a Joaquim,
Sem nem pensar, logo vai
Contar tudo ao seu amado
Que se sente magoado
Mas de desgosto não cai.

E propondo à sua amada
Fugir para o interior,
Ela topa, sem demora,
Empurrada pelo amor.
E naquele mesmo dia
De Natal ela partia
Com seu belo agricultor.

Veja só caro leitor
O que o amor pode armar,
Aquele casal de jovens
Sequer parou pra pensar
O que essa fuga traria.
Porque naquela euforia
Só há tempo para amar.

Mas, vejamos o que ocorre
Àquele jovem casal
Quando chega ao seu destino,
Que é a Cidade Natal
De Joaquim, Alexandria,
Se isso traz alegria
Ou traz vexame, afinal.

Pois, como o leitor já sabe,
Joaquim é “pobre de Jó”!
Seus pais vivem do plantio
Em terra alheia. Faz dó!
E Silvina é da “nobreza”,
Nunca conheceu pobreza.
Viveu sempre ”a pão-de-ló”.

Os pais de Joaquim recebem
Os dois com grande alegria
Sem mostrar nenhum receio,
Que é o que se esperaria.
É que os dois agricultores
São verdadeiros doutores
De amor e sabedoria.

Silvina, ao ver-se cercada
Daquele amor verdadeiro,
Esqueceu a diferença
Que provocava o dinheiro:
Trocara o fofo colchão
Por uma esteira no chão
Ao lado do companheiro.

Mas voltemos a Natal,
Onde os pais dela, chorando,
Blasfemam contra Joaquim,
A viagem preparando
Para ir buscar a filha
Que saiu fora da trilha,
Que lhes fugiu ao comando.

Dona Ema, que é a mãe
De Silvina, inconsolável,
Não se conforma que a filha
Se case com um “miserável”
Um sem recurso, um pão duro,
Um sujeito sem futuro,
Para ela, um imprestável!

Deixemos os pais da moça
A reclamarem da vida,
E preparando a viagem
Que farão logo em seguida,
Voltemos à Alexandria
Para o meio da alegria
Do casal na nova vida.

Joaquim, que quer assumir
Seu amor, quer se casar
Com Silvina, já buscou
Algo com que trabalhar,
Perto de casa, na esquina,
Com Seu João da oficina,
Pra sua casa montar.

A casa é feita de taipa
Ou pau-a-pique, do lado
Da casinha dos seus pais.
Já está, pois preparado.
Silvina está satisfeita,
Cheia de amor, tudo aceita
Apoiando o seu amado.

Esqueceu que já foi rica
Pois o que ela sempre quis
Era um amor de verdade.
Isso ela tem. É feliz.
A sua pobreza aceita.
E a noite, quando se deita,
Orando a Deus, ela diz:

- Obrigada meu Bom Deus,
Por tudo que tens me dado!
- Meu noivo é maravilhoso!
Um homem justo e honrado.
E, na esteira deitada,
Dorme sem sonhar com nada
A não ser com seu amado.

No outro dia, cedinho,
Silvina está levantada,
É dia de plantação
E vai, com sua cunhada
Maria Antônia, plantar
Feijão. Pois quer ajudar.
Volta à noitinha, cansada.

Chegando em casa, a surpresa!
De longe, ela já notou,
É o carro do seu pai.
Ela, cismada, emperrou.
Sua cunhada lhe disse:
- Ora, deixa de tolice,
Vai vê tudo se ajeitou!

E Antônia tinha razão.
Quando na casa adentraram,
Silvina, ao ver sua mãe,
Corre. E aí, se abraçaram.
O seu pai, logo em seguida,
Diz: - Minha filha querida!
E, abraçados, choraram.

Dali a pouco, Joaquim,
Que saía da oficina,
Chega em casa procurando
A sua amada Silvina,
Sendo pego de surpresa
Ao ver, sentados à mesa,
Qual numa ceia divina:

Sua mãe, seu pai, seu sogro,
Sua sogra e sua amada,
Servidos de um cafezinho
E em conversa entabulada
Na mesinha da cozinha
Daquela pobre casinha.
Não consegue falar nada.

Pensa consigo: - Meu Deus,
Bendito seja o Senhor!
Pois só a Tua Bondade
Transforma o ódio em amor.
E, saindo da surpresa,
Aproxima-se da mesa
Fazendo um leve rumor.

Todos se cumprimentaram
E seguiram conversando
Noite adentro. E Dona Ema
Terminou se interessando
Pelo clima do lugar,
Prometendo lá voltar
Pra ver a filha casando.

Dona Bendita, a mamãe
Do nosso pobre nubente,
Que é mesmo uma mulher sábia
Bondosa e, no Bom Deus, crente
Soube levar a conversa
Que iniciou controversa,
Findando bem diferente.

Casou Joaquim com Silvina;
A pobreza com a riqueza;
A capital e o Sertão
Com toda sua beleza.
O amor acaba vencendo
Sempre! É assim que eu entendo
E tenho plena certeza.


Natal/RN – agosto de 2011
Cordel feito na intenção de participar do I Concurso de Literatura de Cordel da Associação do Poetas Populares do Rio. G. do Norte – AEPP-RN - 2011