A dura vida da roça

Quando a passarada canta

O cabôco se alevanta

Do corpo a moleza ispanta

Dá um chêro na muié

Ela ali se ispriguiçano

Vai logo se alevantano

E os dois vão cunversano

Pra cuzinha fazê café.

Dispois desse ritual

O cabra vai pro curral

Pois seu dever matinal

É tirar leite do gado

Essa rotina é sagrada

Não pode dexá por nada

Adispois bate a inxada

E arroxa pro roçado.

Se a terra tá bem moiada

O cabra desce a enxada

Num quer saber de mais nada

Eito de mato caíno

O sol aos pôco, isquentano

E o cabra a inxada puxano

O suó desce, pingano

Mais é este seu destino.

O ligume tá uma beleza

É essa a maior riqueza

Qui a bela mãe natureza

Dá ao cabôco da roça

Que trabaia no pesado

Tá todo dia no roçado

E sente um orgúio danado

De sê homi de mão grossa.

O feijão vai inramano

O mi tombém se ispaiano

E o mato acompaiano

E o cabra coçano a venta

Dizeno: o mato é pesado

Nem que eu morra de cansado

Mas eu num faço roçado

Pra intregá pra jumenta.

Cedo dêxa o arrebol

Trabaia de sol a sol

Cruvado ingual caracol

Derrubano a jitirana

Vida de rocêro é assim

A luta nunca tem fim

Só se diverti um poquin

Lá pro final de semana.

E assim se leva a vida

Na roça é pesada a lida

Mas num tem ôta saída

Pra quem num quis istudá

A escola é a picareta

O professor é a marreta

A inxada é a caneta

E o verbo é trabaiá.

Poeta do Riacho
Enviado por Poeta do Riacho em 26/11/2011
Código do texto: T3357356