Eu quero é glosar * III* Autor: Damião Metamorfose.
Lembro o dia que eu a encontrei
Em um banco sentada, lá na praça.
Um olhar tão distante e tão sem graça,
Cheguei perto e ajudá-la eu tentei.
Não durou muito tempo e me casei,
Foi ai que você fez covardia...
Pois queria um presente ou mais por dia,
Era calça, sapato, flor, vestido...
Não pretendo viver entorpecido
no xarope da sua hipocrisia!
*
Quantas vezes eu fui dormir na rua,
Noite adentro nas farras, fui boêmio.
Me enfeitar com mulheres era o prêmio,
As sem alma, as despida ou seminua.
Toda a culpa foi minha, não foi sua,
E essa fama é que me botou no chão.
Se eu fui áspero ou se falei palavrão,
Paguei caro, e olhe o que elas me renderam...
Se as palavras que eu disse lhe ofenderam,
Eu me humilho e lhe peço o seu perdão!
*
Fiz o céu, as estrelas, o universo,
Fiz a água, os peixes, fiz o mar,
Fiz a vida, fiz tudo por te amar,
Fiz o imerso, o inverso e o reverso.
Fiz o dom de um poeta e fiz o verso,
Que é usado pra fazer poesia.
Fiz roqueiro gostar de cantoria
E fazer um cordel com o Pai nosso.
Só não faço bem mais porque não posso,
Se eu pudesse fazer bem mais, faria!
*
Se a casa é de um rico tem garagem
Tem um carro ou dois no interior.
Se for rico da roça tem trator
E os peões pra fazer a ensilagem...
Sendo um pobre, parece sacanagem,
Tem: José, Josenildo e Josejoão...
Marinalva, Maria e Conceição...
Fogão, pote, guiné, galinha e pato...
Toda casa de pobre tem um gato,
Um cachorro, um cabrito e um gangão!
*
Oito horas de trabalho forçado,
Duas horas pra ir e pra voltar.
Com mais cinco que eu tiro pra ajudar
Durmo cinco e acordo descansado.
Quatro horas que estou desocupado
É pra esposa e os filhos de plantão.
E em seguida eu encaro a lotação,
Ao trabalho e sem tempo para loas...
Flui a força infinita nas pessoas
Que trabalham com muita devoção!
*
Obs: os motes são de autoria de Junior Adelino e as glosas são de Damião Metamorfose.