O cangaceiro e o poeta

Fui criado no cangaço.

Cavalguei com Lampião,

enfrentando mil macacos,

conheci todo o sertão.

Sou valente, cabra macho;

só não tenho é coração.

Seu Antonio Conselheiro,

eu também já conheci

lá da terra de Canudos,

nem sei como eu sai;

foi desgraça anunciada,

a matança que eu vi.

No sertão, terra rachada,

pés descalços eu pisei.

Num momento de fraqueza,

quase me emocionei;

vi um menino chorando

pelo pai que eu matei.

Num boteco da Bahia.

Vejam quanta confusão,

um caboclo educado

veio me estendendo a mão:

Era chamado Vavá,

poeta por profissão.

Da cena vou relembrando,

veja como aconteceu

fui puxando o meu punhal

e o caboclo estremeceu,

a cachaça era amarga

e com meu sangue ele bebeu.

Esta estória é verdadeira,

você pode acreditar;

não duvide do que falo,

pois assim eu vou jurar,

pra manter minha palavra

sou capaz de lhe matar.

Sandro Colibri
Enviado por Sandro Colibri em 03/01/2007
Reeditado em 03/01/2007
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