O cangaceiro e o poeta
Fui criado no cangaço.
Cavalguei com Lampião,
enfrentando mil macacos,
conheci todo o sertão.
Sou valente, cabra macho;
só não tenho é coração.
Seu Antonio Conselheiro,
eu também já conheci
lá da terra de Canudos,
nem sei como eu sai;
foi desgraça anunciada,
a matança que eu vi.
No sertão, terra rachada,
pés descalços eu pisei.
Num momento de fraqueza,
quase me emocionei;
vi um menino chorando
pelo pai que eu matei.
Num boteco da Bahia.
Vejam quanta confusão,
um caboclo educado
veio me estendendo a mão:
Era chamado Vavá,
poeta por profissão.
Da cena vou relembrando,
veja como aconteceu
fui puxando o meu punhal
e o caboclo estremeceu,
a cachaça era amarga
e com meu sangue ele bebeu.
Esta estória é verdadeira,
você pode acreditar;
não duvide do que falo,
pois assim eu vou jurar,
pra manter minha palavra
sou capaz de lhe matar.