A menina do vestido azul

Podemos interpretar o vestidinho azul como sendo a atitude, o primeiro passo, a iniciativa, um ato simples que pode significar o início da transformação, uma revolução silenciosa...

Era uma vez uma garotinha

Bela, pobre, que morava

Num bairro pobre também,

Numa cidade ficava

Distante, longe de tudo

E começou seu estudo

Perto de onde habitava.

Sua mãe não tinha cuidado

Com aquela bela criança

Que sempre andava suja,

Tinha um mundo sem bonança,

Roupas velhas, maltratadas,

Muitas vezes amassadas

Como a vida e a esperança.

Na escola, o professor,

Ficara penalizado

Com aquela situação

E dizia revoltado:

- "Como pode uma menina,

Mesmo assim tão pequenina,

Andar sempre nesse estado?"

Embora o professor

Vivesse em dificuldade,

Retirou do seu salário,

Com muito boa vontade,

Um pouco do seu dinheiro

E deu o presente primeiro

A menina com bondade.

Um lindo vestido azul

Foi o que ele comprou.

A menina ao usá-lo

Muito mais bela ficou

E sua mãe quando a viu

Felicidade sentiu,

Contudo se lamentou:

"- Como pode minha filha

Vestindo um traje novo

Ir tão suja pra escola,

O que vai pensar o povo?

Eu vou logo é cuidar

Se não alguém vai falar

Que com ela não me envolvo".

E a mãe passou a dar

À filha mais atenção:

Dar banho todos os dias,

A cortar as unhas e não

Esquecia de pentear

Os cabelos e usar

Perfume, pasta, sabão.

Dentes sempre escovados,

Um agradável odor.

As pessoas percebiam,

O seu pai também notou,

Que depois de uma semana,

Numa atitude bacana,

Timidamente falou:

- "Mulher, não é vergonhoso

Nossa filha tão bonita,

Agora bem arrumada,

Inteligente e benquista,

Morar aqui nesse lugar,

Vendo a hora desabar

Bem aqui na nossa vista?...

Vamos tomar providências:

Você vai a casa ajeitar

E eu nas minhas horas vagas

Vou as paredes pintar,

Plantar um belo jardim,

Limpar o chão e no fim

A cerca vou consertar".

Um pouco tempo depois,

A casa se destacava

Naquela vila pequena

E agora representava

Higiene, bons odores,

Um jardim de belas flores

Que ao povo encantava.

E os vizinhos ficaram

Bastante envergonhados

Porque moravam em barracos

Feios e desarrumados

E resolveram mudar

A situação do lugar

Que vivia em tal estado.

E de repente no bairro

Todos se interessaram,

Usaram a criatividade,

As suas casas pintaram,

A limpeza imperou

E todo o mundo adorou

Ver as flores que brotaram.

Um homem que acompanhava

A luta daquela gente,

Tomou iniciativa,

Deu um outro passo a frente,

Foi até a autoridade

Maior daquela cidade

Para dizer imponente

Que o povo se organizava,

Que por isso merecia

A atenção do prefeito

E este que bem ouvia

Deu a autorização

Pra fazer uma comissão

E estudar o que se pedia.

O povo solicitou

Pra rua, melhoramentos.

Onde havia barro e lama

Passou a asfalto ou calçamento,

Esgotos a céu aberto,

Canalizados, por certo,

Reduzia-se o lamento.

O bairro adquiriu

Ares de cidadania.

Foi com um vestido azul

Que tudo começaria,

Não era essa a intenção

Do professor em sua ação,

Mas uma história mudaria.

Ele fez o que podia,

Sua parte realizou,

Um primeiro movimento

E com isso acabou,

Sem querer, por motivar

Outras pessoas a lutar

E a vida melhorou.

Tal gesto nos faz pensar:

Será que estamos fazendo

Nossa parte, por acaso,

Aonde estamos vivendo?

Ou será estamos somente,

Nesse mundo simplesmente,

Só fingindo e nada vendo?

Será que somos daqueles

Que apenas apontamos

Os buracos pelas ruas

Ou tão somente olhamos

Crianças fora da escola,

O errado que assola

E jamais nos importamos?

É obvio que é difícil

Rápido se modificar

O estado total das coisas

E que não é fácil limpar

Toda rua, toda estrada,

Mas varrer nossa calçada

É possível realizar.

Sabemos que é difícil

Um planeta reconstruir,

Mas um vestido azul

É fácil adquirir

E principalmente doá-lo

A quem mais necessitá-lo

E não tem a quem pedir.

Há coisas muito importantes

Que têm maior valor

Do que tesouros bancários,

São moedas de amor.

E se forem endereçadas

Na ocasião adequada,

Indenizam qualquer dor.

Um lindo vestido azul,

Esta mensagem quer ser.

Reflita sobre o que aqui

Você no momento ler.

Faça já a sua parte,

Faça da ação estandarte,

Não queira pagar pra ver.

Não fique se ressentindo

Se outros ao seu redor

Estão tentando mudar

A situação pra melhor,

Junte-se a eles também,

Procure fazer o bem,

Vamos desatar o nó.

Nó que impede a melhoria

Da nossa educação,

Que impede todo o povo

Transformar a condição

De desprezo e de pobreza,

O que me causa tristeza

E muita indignação.

As forças que arrocham o nó

São o egoísmo, a ganância,

Descrença, burocracia,

A preguiça, a ignorância,

A escola sem qualidade,

A justiça sem identidade,

Corrupção e arrogância.

Com um lindo vestido azul

A mudança pode ocorrer,

Com a ação de um professor,

Assim quase sem querer,

Mas vai se consolidar

Quando o povo atuar,

Cobrar e se comprometer...

Com uma vida com justiça,

Uma educação operante,

Com uma nação solidária,

Sem corrupto e sem farsante

E pra isso acontecer

Nós devemos escolher

Certo, nossos governantes.

Francisco Diniz

João Pessoa-PB, 01 de outubro de 2005, 13h e 23min.

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Diniz e Francisco
Enviado por Geraldo Duarte em 21/11/2011
Código do texto: T3347428