Simples e complicado * Autor: Damião Metamorfose.

*

Eu sou igual limonada

Meio doce meio azedo,

Meio transparente e turvo,

Com receita sem segredo.

Sou simples e complicado,

Esperto e abestalhado

Sou um medroso sem medo...

*

Silencioso igual torpedo

E com um final barulhento!

Mais mole do que geléia,

Mais duro do que cimento.

Mas é bom tomar cuidado,

Pois se eu ficar avexado

Dou mais coice que um jumento!

*

Às vezes sou barulhento

Penso antes de falar.

Noutras eu falo demais

E o mais difícil é calar.

Por ter a língua afinada

Quando ela fica calada

Volta apimentando o ar!

*

Posso curar ou matar...

Depende o “tamãe” da dose.

Pouco só vai dá ressaca,

Muito: mata, dá cirrose,

Enxaqueca e diarréia...

Mas não tenho a mínima idéia

Dessa tal metamorfose!

*

Sou pior do que fimose

Em mercadoria fina.

Sou vento suave e puro,

De chaminé de usina.

Sou desprezível e amável,

E posso ser inflamável,

Mais que álcool ou gasolina...

*

Não sou colo nem colina,

Não sou passe nem encosto.

Nasci doce e sou amargo

A seu gosto ou contragosto.

E se bem eu me conheço,

Sou de graça e tenho preço,

Contrabando com imposto...

*

Sou exclusivo e exposto,

Mais áspero que o espinho.

Às vezes acompanhado

Eu me sinto tão sozinho.

Acho que eu sou de lua

Pois seja em casa ou na rua.

Mudo da água pro vinho!

*

Não sou pedra em seu caminho,

Esse ai é o meu lema.

Não me humilha, não te humilho,

Não quero ou causo problema.

Igualdade é a bandeira,

Eu sou terra sem fronteira,

Sem divisa, sem estrema...

*

Mais excluído que o trema...

Reto que é quase torto.

A deriva em terra firme,

Sem um leme sem um porto.

E o bordão que eu sei de cor

Não sou melhor nem pior...

Nasci pra vencer o aborto!

*

Maio vivo, meio morto,

Se precisar, vice versa.

O meu caminho de ida

Pode ser a rota inversa.

Não sou de fazer apelos

Falo pelos cotovelos

E não gosto de conversa!

*

Minha mente se dispersa,

Não sei se vou ou se quero.

Se for bom pra mim não presta,

Às vezes não me tolero.

Se quiser passar na frente

Passe, pois sou coerente,

Minha pressa é quase zero!

*

Da vida tudo eu espero

E nada me interessa.

Já estou na meia idade

Se é que a meia é essa.

Cinquenta é a metade

De cem, qual é a minha idade?

Responda quem tiver pressa!

*

Sou o avesso ou à avessa,

Frente e verso e o reverso.

Uma gora no oceano,

Fagulha no universo.

Cio na ausência do cio,

O que sou eu denuncio

Nas entrelinhas de um verso!

*

Eu sou exposto e imerso

Depende como tu queira.

Sábio ou burro que só fala

Parábolas ou besteira...

Posso ser começo e meio,

O fim, o bonito, o feio...

Ou só um eira sem beira!

*

Fim.

Damião Metamorfose
Enviado por Damião Metamorfose em 15/11/2011
Reeditado em 21/08/2017
Código do texto: T3337958
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