A donzela e o diabo
Essa história sucedeu lá pros lados da Bahia.
Terra do carnaval, Dorival, da pimenta e dalegria.
Numa certa ocasião o diabo aparecia.
Flertando com toda gente, enganava e sumia.
Misturava muita coisa religião e sodomia.
O diabo era ardiloso conquistava com presentes.
E por dentro era feioso, rancoroso, impertinente.
Puxava uma nota de cem deixa a muitos contente.
Fingia ser gente de bem, passava até por crente.
Depois de escolher a vítima afiava logo os dentes.
Sugava tudo o que tinha deixava a dependente.
Disfarçava-se de elegante, usava máscara de formoso.
Sem disfarce era magrela, barrigudo e invejoso.
Até parecia sensato, inteligente, respeitoso.
Dá bíblia sabia tudo, de traz pra frente o engenhoso.
Mas Deus não lhe dava bola, oh! Troço ruim e mentiroso...
Em alguns dias da semana ia pra culto religioso.
Desencaminha mulher casada a população denuncia.
Homem, menina, velhinha a vizinha até se agonia.
Inventava muita rima, prosa e até poesia.
Tacavalhe maquiagem pra tentar uma melhoria.
Usava os seus poderes, seus olhos eram seus guias.
Pegava o que surgisse pra provar sua teoria.
Na peleja do diabo abriu-se um buraco no chão.
Caiu nele uma donzela de cultura e educação.
O bicho abriu as asas parecia um pavão.
Fingiu que era amor, coisas do coração.
Levou ela no bico, jogou a na escuridão.
Valei-me meu padim padre Cícero, nossa senhora da Conceição.
Com um terço na mão implorava a bixinha.
Nossa senhora me defenda minha mãe, minha madrinha.
Me traga um pouco de luz, alguma ideia, uma coisinha.
Que me faça sair dessa, nem que seja de noitinha.
Faço tudo o que quiseres, serei pra sempre boazinha.
Cai nessa sem querer, foi coisa de relance.
Fui dar bolas para o cão, e logo entre entranse.
Cai no conto do maldito, preciso de uma chance.
Sei que tem uma saída e que está ao meu alcance.
Pra enganar o descarnado penso em algum lance.
Aviso que sei dançar e peço que ele dance.
Quando o sete caras for dançar empurro o na água benta.
Tomara que quebre a cara e tudo que lhe sustenta.
Amarro-lhe uma cruz quero ver se ele aguenta.
Camaleão mascarado vamos ver o que inventa.
Depois de cair a máscara tua maldade aumenta.
Cresce também a idade pra mais de cento e cinquenta.
O bicho é feio mesmo pior do que aparenta.
Depois que o bicho morreu foi só felicidade.
A donzela o venceu com sua serenidade.
Encontrou o seu moreno homem de virilidade.
Beijou suas mãos e lábios com tanta docilidade.
Agora a coisa é outra, uma nova realidade.