TRILHA (quase cordel)
Escute um bocadinho minha história
Antes que eu perca na memória
Termine tudo a se esquecer
Igual a todos nasci pequenininho
Queria ser um passarinho
Pra todo o mundo conhecer
Decidi por o passo pela trilha
Deixei pra trás casa e família
Sem saber aonde ia chegar
Mãe entristeceu e abençoou
Pai bem forte abraçou
Pedindo para eu me cuidar
Salteando dia a dia, galho em galho
Se nuns trabalhos me atrapalho
Noutros aprendi a me virar
Carreguei minha vida numa bolsa
Sem que ninguém nos ouça
Não se precisa tanto assim
Pouco dinheiro, sem ouro, outro bem
Desses que a gente tem
Sem levar nada no fim
Não fiz planos, nem tracei itinerário
Sem relógio e calendário
Pra menos me confundir
Caiam flores, chegara o outono
Escurecia, vinha o sono
Instantes de refletir
Se, às vezes, a tristeza vem bater
Faço logo ela correr
Mando voltar amanhã
Vendendo o almoço para poder jantar
Sinto ser meus o céu e o mar
Descreio da fé e talismã
Se acaso aparece um cobrador
Digo não dever sequer favor
Vou empurrando com a barriga
Ao cansaço, sento na ribanceira
Saco a viola companheira
Desfiando uma cantiga
Se for para evitar inimizade
Chamo urubu de majestade
Carne moída é bom filé
Fica sem o que não tem solução
Ao deitar num barracão
Imagino que é chalé
Amanhece... No alto o sol já brilha
Hora de botar o pé na trilha
Muito ainda a caminhar
Para onde? Sei que é distante
Se volto? Quem garante?
Não se ponha a me esperar
Pensando bem, assim é toda estrada
Chegar-se a tudo ou nada
Depende do sonhar
Não digo até logo, nem adeus
Deixo um abraço para os seus
E pra quem de mim lembrar
Partindo, nem pra baixo nem pra cima
Façam um verso, uma rima
Ninguém queira ser juiz
Não estava nas estrelas, não era sina
Por este sol que me ilumina
Só tentei ser bem feliz