VENCI GRAÇAS A DEUS! - Parte I

Oriundo de Mossoró

sou um tanto atrevido

menino que viu pobreza

cabra da peste metido

vi tanta fome na mesa

chorando sem ter certeza

da vida pobre sofrido

Fui pra escola descalço

fiquei na fila da fome

já chorei sem esperança

nada valia meu nome

olhando pro céu chorava

à noite sozinho orava

ajuda sem ter de onde

Eu sonhava ser escritor

ver meus livros publicados

escrevia num caderno

uns textos embaralhados

enquanto o tempo passava

dia e noite estudava

meus dias foram chorados

Menino triste sozinho

testemunha da miséria

faltando água no pote

seca braba, coisa séria,

para todos faltava pão

sobravam calos na mão

fui motivo de pilhéria

Só pensava no futuro

tudo deveria mudar

para isso acontecer

eu precisava estudar

as dificuldades, porém,

acabavam cada vintém

que papai lograva ganhar

Tantas pedras no caminho

lágrimas de sangue chorei

quão difícil era viver

não era a vida que sonhei

continuei estudando

em pouco o tempo passando

me ensinou o que hoje sei

Pulei todos os impasses

enfrentei os meu temores

saltei os obstáculos

batalhei contra horrores

os fantasmas todos venci

embora tudo que sofri

fui além dos dissabores

Querendo ser eclético

Lia obras emprestadas

muitos livros que me deram

ou no lixo encontradas

conheci bons escritores

li os melhores autores

vendi revistas rasgadas

Fiz carrinhos de brinquedo

pra vender na vizinhança

carreguei feiras nos ombros

de olho na esperança

vendi bibelôs nas ruas

revistas de mulher nua

sempre tendo confiança

Nas grandes festas juninas

de foguetes fui vendedor

eu trabalhava direito

como um bom trabalhador

mas de noite estudava

já nas letras laborava

eu queria ser escritor

Apesar do desalento

nada me desanimava

às vezes na minha rede

de tristeza eu chorava

era choro de quem luta

que nasce da força bruta

do leite que derramava

Vieram muitos invernos

acabaram tantos verões

os anos multiplicaram

adormeceram corações

no céu morreram estrelas

nisso eu querendo vê-las

destruía os meus senões

Ultrapassei as barreiras

aos estudos me entreguei

com lágrimas dos meus olhos

um mundo de flores reguei

contudo, guerreiro, segui

da batalha nunca fugi

aonde queria cheguei

Mesmo contra seu destino

esse menino sonhador

nascido na caatinga

que a vida toda estudou

num concurso aprovado

teve seu rumo mudado

de fome nunca mais chorou

Gilbamar de Oliveira Bezerra
Enviado por Gilbamar de Oliveira Bezerra em 04/11/2011
Código do texto: T3316332
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