O MARCO DO REINO DO MANJOLÉU

Sou um Rei que busca um Reino

Para o seu governo ter

Construí assim um Marco

Para o meu sonho valer

Tirei do verso meu mundo

Desse mundo, um mundo fiz

Mais alegre, mais perfeito

Daquilo que sempre quis

Não precisei de tijolo,

Argamassa, pedra e cal

Somente das mãos que tenho

Fiz este Marco Real

Esse Marco sempre está

Aberto à visitação

Pra quem do verso gostar

Há tratados de barão

Por entre sete colinas

O castelo se levanta

E se lança ao mundo inteiro

Como fosse longa manta

Suas torres e portões

São guardados por encanto

Dos Reis Magos mais antigos

Que os cristãos sabem um tanto

O rio que banha o Reino

É suprema e larga veia

Quem nele quer se banhar

Com a Iara cirandeia

A moeda do meu Reino

É a rima e seus talentos,

Compram-se terras e joias

Sem gastar muitos portentos

Esse Reino tem parentes:

Pedra do Reino e da Fina

São Saruê e Pasárgada

E onde o mundo desatina

Com outros marcos também

Comunga o reinar poético

Com Leandro e Milanês

Mais o Marco Cibernético

Minha coorte é de Boneco

Meu castelo é de Reisado

Diana é minha princesa

O Caboclo meu soldado

Minha retreta é guinada

Mais que estalo de arrebite

Co’alfaia, ganzá, guitarra

Pois também é MangueBeat

E nos saraus do palácio

Tem coco, baião e toque

Baques, frevo mais toada

E samba e modinha e rock

Aprendi como quem vive

Tudo o que sei com os meus:

Com o Terço, o Terso, o Verso

Mais as criaturas de Deus.

Cá também sou cavaleiro

Tenho credo, ordem, brasão.

Cavalo, lança e espada

Donzel, escudo e fardão.

Recebi coroa e ordem

Por minha mesma valia

E vos dou este meu Reino,

Que é murado de Poesia

Eu sou um Rei-Cavaleiro,

Cuja espada sangra rimas

Eu sou um Vate-Profeta,

Que canta o Deus lá de cima

Herdei de meu Avô-Rei

A Verve em seu nobre rito

E sagrei do mesmo cálice

O título Dom Pirrito

E neste Marco construo

A face que me figura

Desposo minha Rainha

Chamada Literatura

Em cada chão, cada canto

Gravei xilos co’o arado

Com metáforas talhei

Este caminho tomado

Cultivo em cada canteiro

A semente dos quadrões.

Em metro, em verbo e solfejo

Sei respeitar seus mourões.

No Mercantilismo fiz

A navegação global

Do Japão versei haikai

Dos ibéricos, jogral.

Dos americanos rap

D’Angola versei lundum

No youtube fiz um post

Que a França quis fazer um

Pelejei com Zé Limeira

Em Soneto à Beira-Mar

Meu Martelo Agalopado

Quem bateu foi Ringo Starr

Com emboladas fiz xote,

Mercedes Sosa cantou

Com Nietzsche, maracatu

Seu Chico Science loou

O que vi, ouvi, senti

Narro em meu nobiliário

Havendo com Dom Dinis

Um ofício partidário.

E a cada dia mais verso

Para esse Marco lograr

A cultura é engrenagem

Que vive sempre a rodar

Pois meu Marco é tudo aquilo

Que poeta o coração

Dos retalhos faz-se a colcha

E do Verso uma Nação

Minha coroa de Rei

João Clementino teceu

E três estrelas da noite

No couro de boi coseu

Minha coroa de Rei

Tem no cangaço ideal

No zodíaco é chamada

De coroa boreal

Minha espada é minha pena

Meu escudo é a palavra

Minha armadura é o verso

Meu Reino é a minha lavra

Esse Reino vive em mim

Sempre ao Alto, nunca ao léu

Escorre de minha pena,

Nomeado Manjoléu.

Rafael de Oliveira ou Dom Pirrito II
Enviado por Rafael de Oliveira ou Dom Pirrito II em 01/11/2011
Código do texto: T3311517