Falta de humanidade

No Estado Maranhão

Por manobra do destino

Um chofer de caminhão

Acidentou um menino

Sem necessitar vingança

A coitada da criança

Com esse acidente horrível

Perde sangue, geme e chora

Mesmo sem morrer na hora

Ficou irreconhecível

O chofer de confiança

Vendo que foi casual

Socorreu logo a criança

A levando ao Hospital

Falou com o enfermeiro

Que lhe respondeu grosseiro

Lhe dando pouca atenção

Sem olhar nem pra o menino

Doutor Aníbal de Aquino

É quem está no plantão

Chamou o doutor urgente

Mas se ele não comparece

Dizendo "esse paciente

Terá INPS?

Não tendo posso atender

Mas primeiro quero ter

Informações responsáveis

Que antes de tocar nele

Quero saber se o pai dele

Tem condições favoráveis"

Doente como já vinha

Sem um tratamento ter

A pobre da criancinha

Foi tratando de morrer

O chofer agoniou-se

Temendo que depois fosse

Preso no mesmo local

Correu que bateu na porta

Deixando a criança morta

Num banco do hospital

Mediante o triste drama

O enfermeiro incapaz

Botou o corpo na cama

Ficou esperando os pais

Dizendo "a família vem

Não vou avisar ninguém

Já que o doutor nem olhou

Deixo no isolamento"

Naquele mesmo momento

O telefone tocou

O enfermeiro dali

Atendeu a voz foi essa

"Por bondade chame aí

Aquino com toda pressa"

O médico atendeu "quem é"

A voz respondeu "Zezé"

Sua esposa que lhe faz

Ciente um acontecido

"Nosso filho está sumido

Tem duas horas ou mais"

Pelo caso acontecer

Alguém havia sabido

Mas se o povo sem saber

Quem bateu nem foi batido

O médico ficou vermelho

Desligou o aparelho

Correu em busca da porta

Pra ir pra casa vexou-se

Mas antes de ir lembrou-se

De ver a criança morta

Doutor Aníbal de Aquino

Sofreu tremendo empecilho

Reconheceu o menino

Gritou, chorando: "é meu filho!"

Paguei pela minha língua

Coitado, morreu à míngua

Se eu tivesse atendido

Com caridade e com fé

Quem sabe podia até

Meu filho nem ter morrido

A mãe sofreu igualmente

Ao papai não controlou-se

Nem os irmãos finalmente

Toda cidade abalou-se

Pra os manos dura surpresa

Pra os pais a maior tristeza

Filho na eternidade

O prazer fez uma pausa

Unicamente pela causa

Da falta de humanidade

Louro Branco
Enviado por Paraibana em 31/10/2011
Reeditado em 05/11/2012
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