ERASMO DUARTE Um Homem de Fibra
Deus com o seu esplendor
Semeia por toda parte
A semente do amor
E com o mundo reparte
E deu mais brilho ao sertão
Quando ali naquele chão
Nasceu Erasmo Duarte.
O ano foi vinte e cinco*
Numa noite de orvalho
E o tempo com afinco
Cumpriu ali um atalho
E na magia do clima
Paria a Dona Idalina
O filho do seu Carvalho.
Uma criança bem quista
Nasceu num clima de sorte
No recanto Boa Vista
No Rio Grande do Norte
Mesmo com dificuldade
Ali na localidade
Recebeu o seu suporte.
Do seu Antonio e Idalina
O amor se fez fecundo
Nasceu Letícia a menina
E o menino Raimundo
E pro amor aumentar
Veio Chiquito e Brancar
Para habitar esse mundo.
E desse amor do sertão
Em meio a muito carinho
Nasceu o filho João
E o menino Zezinho
E também a Titiquinha
Uma bela menininha
Para enfeitar todo ninho.
A família do Erasmo
Assim completa ficava
E ele num entusiasmo
Em tudo se completava
Pois era menino ativo
Muito esperto e muito vivo
Naquilo que inventava.
Era menino levado
Esperto e muito ligeiro
Por ser assim tão danado
Era chamado de “arteiro”
E na sua danação
Chegou a por um ferrão
Num colega companheiro.
No caminho do curral
Conhecia toda trilha
Arrumava um cipoal
Amarrado na forquilha
Tudo pra se distrair
Até ver sua mãe cair
Nessa engenhosa armadilha.
No campo Erasmo cresceu
Por ser ali seu lugar
E o temperamento seu
Pode se manifestar
Era homem vaidoso
Porém muito melindroso
Em todo relacionar.
Dono de uma só palavra
Porém grande gozador
Honesto na sua lavra
Sempre foi trabalhador
Foi sempre amigo fiel
E assinando um papel
Tinha ali grande valor.
Gostava de cantoria
De forró e vaquejada
De sempre em sempre comia
Uma gostosa buchada
E se sentia contente
Vendo viola e repente
Animando uma noitada.
Tornou-se grande vaqueiro
Nas quebradas do sertão
Era grande medalheiro
Com seu chapéu e gibão
E com o cavalo Capricho
Derrubava qualquer bicho
Com o Brancar seu irmão.
Num recanto Melancias
Em um forró animado
Pelo mestre Zacarias
Seu Erasmo foi tocado
E ali naquela festinha
A bela da Maroquinha
Lhe deixou apaixonado.
No compasso do dançar
Aumentou sua paixão
Foi o Erasmo entregar
De vez o seu coração
E com a sua Maroca
A aliança faz troca
Na fé de frei Damião.
Seu Erasmo e Maroquinha
Criaram uma filharada
Muito prazer ele tinha
Em toda sua empreitada
Mas o que ele mais gostava
Era quando se encontrava
Num parque de vaquejada.
Pra dá estudo aos filhos
Teve que fazer mudanças
Mudou o rumo dos trilhos
Se encheu de confianças
Na vida meteu a cara
Encheu um pau-de arara
De amor fé e esperança.
Para não ficar tão só
Pois não queria tristeza
Se mudou de Mossoró
Pra morar em Fortaleza
E a família sustentar
O gado foi negociar
Que era a sua natureza.
Gostava do seu sertão
Vendo o gado ferrado
Sempre foi um bom patrão
Pra cada um empregado
Tinha um irmão como sócio
Vivia a fazer negócio
Com venda e compra de gado.
Era bom negociante
Como era bom vaqueiro
Nunca seguia adiante
Sem levar o companheiro
Na vida ele tinha sorte
Mas queria que morte
Não o levasse tão ligeiro.
Um dia de tardizinha
Seu Erasmo entristeceu
Pois a Dona Maroquinha
Nesse dia adoeceu
E num aceno de adeus
Fez despedida dos seus
Foi suspirando e morreu.
Seu Erasmo muito abatido
Não pensou em desistir
Pois estava decidido
Pra “peteca não cair”
Produzir e fazer renda
Administrando a fazenda
E dali nunca sair.
A saudade da amada
Nunca lhe abandonou
Seu gosto por vaquejada
Com ele continuou
Na vida não quis marasmo
E de “O Sossego do Erasmo”
A fazenda batizou.
Seu Erasmo ainda parece
Um romântico sonhador
De noite faz sua prece
E sonha com seu amor
E se tiver vaquejada
Ele entra na toada
Pra ouvir um cantador.
Cultiva sua vaidade
Sempre zelando a imagem
Com oitenta e seis de idade
É um homem de coragem
Por isso que sua história
É registrada em memória
Nessa singela homenagem.
*1925
Fortaleza – setembro de 2011