Dr. Sobreira Uma Vida, Várias Histórias

Quando Deus com Sua luz

Fez união verdadeira

Juntou seu José da Cruz

Com dona Maria Sobreira

E dentro de tantos brilhos

Ela teve oito filhos

Sem precisar de parteira.

Seu José e Dona Maria

Formavam um lindo par

Ele uma só alegria

Gostava de prosear

E ela sem ter lamento

A todo ano um rebento

Vinha para ela cuidar.

No ano de vinte e um

Num dia santificado

Num advento comum

Mais um rebento chegado

O quinto dessa fileira

José Bezerra Sobreira

Foi o cristão batizado.

José cresceu sem tristeza

Na Missão Velha a cidade

Fazia toda proeza

Na maior felicidade

Vivia como menino

Mas já tinha seu destino

Pra outra localidade.

No tempo da meninice

Tinha as coisas decididas

Estudou com Dona Alice

Nas Escolas Reunidas

E concluindo o primário

Com a sobrinha do vigário

Procurou novas saídas.

Menino forte e esperto

Com nada ele se atrapalha

Já se sente mais liberto

Com o saber que lhe agasalha

Mesmo com dinheiro pouco

Vai para o Zefinha Couto

Um grupo lá de Barbalha.

Pelo pai orientado

Dá novo rumo na vida

Pra capital do estado

Arruma a sua partida

De modo muito específico

Vai fazer o científico

Sem tristeza ou despedida.

E foi no Castelo Branco

Que ele foi estudar

E com seu jeito bem franco

Não dava pra esperar

Pois no jeito sonhador

Um diploma de Doutor

Ele iria conquistar.

E sem ter muito cacife

Mas sabendo o queria

Se mudou para o Recife

Pois tinha lá garantia

De valer sua vontade

Cursando uma faculdade

A de Odontologia.

Para o estudo que fez

Ele foi muito esforçado

No ano quarenta e seis

Teve o curso terminado

E no Recife ficando

Trabalhou ali um ano

Depois de já estar formado.

À sua terra natal

Voltou para trabalhar

Pois via ser ideal

Um consultório montar

E é na Rosalvo Maia

Que Dr. Sobreira ensaia

O seu novo laborar.

Bonito e recém formado

Polido na educação

Se torna simpatizado

Por toda a população

Conquista muitos clientes

Pra tratamento de dentes

Por toda uma região

Seu nome foi propagado

Se espalhando em toda parte

Virou dentista afamado

Mas seu coração se parte

Quando ver jovem elegante

O seu jeito de galante

Se rende à Elza Duarte.

Nessa paixão foi afoito

E não criou ilusão

No ano quarenta e oito

Selou a sua união

Com dona Elza Duarte

Dr. Sobreira reparte

O amor do coração.

De um amor bem vivido

Já foi surgindo um rebento

Paulo o primeiro nascido

Aumentou o sentimento

Mary Coeli e Roberto

Mary Anne bem de perto

Selaram esse casamento.

Quis o tempo que o casal

Não mudasse seus trajetos

E de modo natural

Chegaram a ter dez netos

Que no seguir dos destinos

As meninas e os meninos

Já deram quatro bisnetos.

Na família afetuosa

Havia uma grande luz

A Dona Maria Rosa

De sobre nome Jesus

Que por uma vida inteira

Maria do seu Sobreira.

A meninada conduz.

O grande Doutor Sobreira

Vivia em tranquilidade

Gostava de brincadeira

Não cultivava maldade

Por ser pessoa benquista

Por tempos foi o dentista

Único ali da cidade.

E foi num fim de semana

Que resolveu se mudar

Foi na Juvêncio Santana

Seu consultório instalar

Pois tinha a consciência

Que perto da residência

Era bom pra trabalhar.

Com sua versatilidade

Se dividia no trato

Com a sua habilidade

Atendia o sindicato

E com um brilho de tocha

Lá no grupo Pedro Rocha

Era um dentista de fato.

Trazia sempre uma graça

Em tudo que ele fazia

E nos encontros na praça

No final de cada dia

Usava da oratória

Para contar uma história

Com a maior maestria.

Amigos selecionados

Tinha para conversar

E todos eram encontrados

Sempre no mesmo lugar

E dia chegando ao fim

Encontrava o seu Landim

Na Farmácia Popular.

Há mais de cinquenta anos

Ali naquela cidade

Não trazia desenganos

Somente felicidade

E trazia de memória

Uma porção de história

Que contava com vontade.

Doutor Sobreira era franco

E também muito educado

Um dia todo de branco

Foi pelo amigo indagado

Pra onde é que ele ia

Com aquela fantasia

De um doente engessado.

Com essa observação

O doutor se encabulou

Ficou todo sem ação

E o sorriso amarelou

Ficou um pouco às avessas

E da roda de conversas

Ele então se afastou.

Ao amigo perdoando

Voltou para conversar

E então foi se lembrando

Das histórias pra contar

E lembrou do repertório

História de consultório

Que tinha pra mencionar.

Foi certo dia um matuto

Pra “distrair”um queixal

E o doutor meio soluto

Começou o ritual

Arrancou mais de um dente

Começando pela frente

Para chegar ao local.

E o matuto espantado

Pediu uma explicação

E o doutor “truviscado”

Disse: é para o boticão

Alcançar logo seu dente

Aquele que está doente

Pra eu fazer a extração.

E numa prosa de quebra

Pro matuto receitou

Um bochecho de zinebra

Pelo muito que sangrou

Mandou tomar fubuia

E depois daquele dia

O matuto não voltou.

Certa vez uma senhora

Dona de grande fartura

Para haver uma melhora

Mandou fazer dentadura

Embora tendo riqueza

Não tinha nenhuma presteza

Com o saber e a leitura.

O Doutor Sobreira fez

Conforme o combinado

E pra ficar de uma vez

Todo então bem fixado

Mandou a corega usar

Para depois informar

Como foi o resultado.

Voltando ao consultório

Pra falar do ocorrido

Abriu o seu relatório

Do que tinha acontecido

Disse sem fazer fuxico

Que a chapa ficou pro Chico

O seu querido marido.

Outra história engraçada

Fala de uma velha sisuda

Ela não ria pra nada

Mas precisava de ajuda

Buscou o doutor Sobreira

Pra um chapa de primeira

Mudar a sua figura.

Foi um dia combinado

Para fazer a moldagem

E o doutor preparado

Fez logo uma modelagem

Pôs na boca da cliente

Pra ver o tipo de dente

Teria melhor imagem.

A velha o molde mordendo

Ficou ali a esperar

E o doutor esquecendo

Saiu para merendar

Voltou e viu na cadeira

A velha com a moldeira

Num tremendo sufocar.

Quando o molde retirou

Viu que tinha demorado

Da boca a pele arrancou

E descolou um bocado

Mas mesmo com o incidente

Sabia agora qual dente

Devia ser colocado.

Quase que tirando o couro

Sobreira fez dentadura

Colocou dente de ouro

Na chapa da criatura

Ficando a boca alargada

Parecia que a danada

Vivia rindo em fartura.

Muita coisa aconteceu

Dentro do seu consultório

Cada uma que se deu

De modo bem mais notório

Que se todas registradas

Podiam ser condensadas

Em um grande repertório.

Fora da sua profissão

Tem fato pra se contar

Se metia em confusão

Por uns uísques tomar

Gostava de moto e carro

E dirigia no barro

Só pra poder derrapar.

Uma vez uma senhora

Foi a ele se queixar

Pois o seu filho lá fora

Tava a ela a apelidar

Foi de Rápido Juazeiro

Que o filho presepeiro

Fez a mulher rotular.

Seu Sobreira humorado

Para não perder o clima

Disse pra ela educado

Dê ré e passe por cima

E depois pise no breque

Pra ver se esse moleque

Nunca mais ele se anima.

Assim o doutor Sobreira

A sua vida levava

Um pouco na brincadeira

Em tudo que proseava

Vivia com alegria

Pois pra ele o que valia

Era fazer o que gostava.

Um dos gostos do doutor

Era ir à festa dançar

Ele era bom dançador

Desses de rodopiar

Dançava bolero e salsa

Que virou um “pé de valsa”

Ali daquele lugar.

Seu Sobreira era querido

E fazia caridade

Seu cliente era atendido

No sertão ou na cidade

Não importava o doente

Livrava da dor de dente

Na maior simplicidade.

Humilde de coração

Viveu suas trajetórias

Honrou sua profissão

Teve tristezas e glórias

Vai deixar na despedida

A beleza de uma vida

E também várias histórias.

As honras de grande herói

Ao mestre doutor Sobreira

Que a sua história constrói

De forma bem altaneira

E num cumprir dos seus planos

Com oitenta e oito anos

Faz festa pra vida inteira.

Lucarocas
Enviado por Lucarocas em 26/10/2011
Código do texto: T3299581
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